Além do presidente Jair Bolsonaro (PL), pelo menos cinco políticos bolsonaristas que tiveram salto de seguidores em seus perfis nos últimos dias foram impulsionados por contas recém-criadas no Twitter. É o que aponta análise divulgada nesta quinta-feira (28) por Christopher Bouzy, fundador do Bot Sentinel, uma ferramenta de monitoramento de bots na internet.
Desde o anúncio da venda da plataforma ao bilionário Elon Musk na segunda-feira (25), bolsonaristas vêm atribuindo o crescimento vertiginoso a um suposto fim da censura a perfis de direita na rede.
O perfil de Jair Bolsonaro (PL) ganhou cerca de 170 mil seguidores desde a terça-feira (26). A média era de 4.200 em abril, segundo dados da ferramenta Social Blade. De acordo com Bouzy, ao menos 61.299 dessas contas foram criadas desde a segunda (25).
Bouzy afirma que há essa mesma característica entre os novos seguidores das contas da ministra Damares Alves, do senador Flávio Bolsonaro (PL), do ex-ministro Tarcísio de Freitas, do ministro do GSI (Gabinete de Segurança Institucional) general Heleno e da deputada Carla Zambelli (PL-SP).
Zambelli somou cerca de 110 mil seguidores de terça (26) até esta quinta (28). Desses, 54.483 seriam contas criadas desde a segunda, segundo o Bot Sentinel. Durante o mesmo período, o general Heleno conquistou em torno de 57 mil seguidores, sendo 42.028 contas recém-criadas. Já o ex-ministro Tarcísio de Freitas abocanhou 89 mil seguidores, em que 64.765 seriam perfis também gerados a partir da segunda.
Damares Alves, por sua vez, registrou crescimento de 59 mil seguidores nos últimos três dias, impulsionada por 39,863 contas que teriam sido criadas a partir do dia 25. Por fim, o filho do presidente Flávio Bolsonaro (PL) alcançou 74 mil seguidores. Desses, 46.867 foram supostamente recém-criados.
Bouzy disponibilizou no Twitter relatórios contendo informações sobre os novos perfis, como a data de criação e os ID'S. "Esse foi um movimento muito incomum. Todas essas contas foram criadas a partir do dia 25 e não apresentam nenhuma atividade", disse ao site Congresso em Foco.
O especialista afirmou no começo da semana não acreditar que o fenômeno seja orgânico. "Eu não acho que dezenas de milhares de brasileiros decidiram criar novas contas ao mesmo tempo e seguir Bolsonaro porque Elon Musk está comprando o Twitter".
O Twitter afirma que tem analisado as recentes variações na contagem de seguidores de perfis e que "essas oscilações parecem ter sido, em grande parte, resultado de um aumento na criação de novas contas e desativação de outras, organicamente".
Segundo dois especialistas ouvidos pela Folha, o fato de as contas terem sido criadas recentemente não implica necessariamente que elas sejam automatizadas, ou seja, bots. Há a avaliação, entretanto, de que a movimentação dos últimos dias é altamente anômala e que há grandes chances de se tratar de um movimento coordenado.
Segundo análise preliminar do professor Marcelo Alves, do Departamento de Comunicação da PUC-Rio, entre as últimas 90 mil contas que seguiram Bolsonaro, 77,5% não têm nenhum seguidor e 98,8% têm menos de 10. A maioria das contas não têm atividades registradas em seus perfis.
Para ele, os dados indicam que a movimentação contou com uma mescla entre bots e contas aparentemente autênticas. "Isso sugere que houve uma ação coordenada por bolsonaristas em aplicativos de mensagens e outros espaços", diz. "Saber o quanto é autêntico e quanto é bot é extremamente difícil, mas é uma variação de seguidores de ordem de grandeza que não se manifestava em pelo menos dois anos."
Raquel Recuero, coordenadora do Laboratório MIDIARS (Midia Discurso e Analise de Redes) da UFPEL (Universidade Federal de Pelotas) tem opinião similar. Segundo ela, o movimento pode ter sido "criado por script", ou seja, contando com replicadores e campanhas em outras plataformas, como o WhatsApp e Telegram.
"Eu acho esses 60 mil (novos seguidores de Bolsonaro) e esse viés da direita bem suspeito. Mas provavelmente é uma conjuntura: a campanha de [Elon] Musk e a esperança de liberdade total dessa extrema-direita", diz.
Na rede, bolsonaristas atribuem o crescimento no engajamento a uma suposta mudança instantânea nos algoritmos da plataforma, que teria deixado de sabotar perfis à direita poucas horas depois do anúncio sobre a venda da plataforma.
O discurso vem sendo replicado por apoiadores e influenciadores bolsonaristas, que costumam acusar o Twitter de censura a discursos políticos conservadores em suas normas de moderação.
"Era fato que o algoritmo anterior sabotava as contas", disse Flávio Bolsonaro ao comemorar os novos seguidores. "O Brasil é conservador, só faltava transparência e liberdade. Bem vindo, @elonmusk", afirmou Carla Zambelli em um post.
O bilionário sul-africano tem simpatia entre as parcelas bolsonaristas por se descrever como um absolutista da liberdade de expressão. Musk já afirmou que tornar a rede social uma empresa de capital fechado seria uma forma de garantir a livre circulação de ideias.
O empresário, entretanto, só deve passar a ter ingerência plena sobre o Twitter no fim de 2022, já que a transação está sujeita à aprovação dos acionistas do Twitter, de órgãos regulatórios, entre outras condições habituais a esse tipo de negociação.
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