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'Xuxa potencializava o feminino que podia ser aceito sem punição', diz pesquisador

Nas redes sociais, pessoas LGBTQIA+ refletem sobre importância da apresentadora na formação de suas identidades

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São Paulo (SP)

No dia 11 de março, o programa "Altas Horas", da TV Globo, exibiu um episódio em homenagem à apresentadora Xuxa Meneghel. Em um trecho da transmissão, o ator Silvero Pereira relata a relevância que Xuxa em sua infância: "A Xuxa para mim é o RuPaul. Eu colocava toalha na cabeça, usava as roupas da minha mãe e dançava. Um dia uns colegas meus me viram dançando sua música e me apelidaram de paquita. Isso era uma dor, pois tinham revelado algo que deveria estar escondido", disse.

Desde então, perfis nas redes sociais falam sobre o impacto de Xuxa na infância de pessoas LGBTQIA+. Entre este e outros debates envolvendo seu nome, o termo "Xuxa" apareceu diversas vezes entre os assuntos do momento no Twitter até a data de seu aniversário de 60 anos, nesta segunda-feira (27).

Para alguns, a estética, as músicas e as coreografias apresentadas pela 'Rainha dos Baixinhos' serviram de apoio ao longo do descobrimento da própria sexualidade.

Um vídeo que lista os motivos pelos quais pessoas LGBTQIA+ amam a Xuxa viralizou ao analisar os elementos que compõem a estética da apresentadora. Ao blog #Hashtag, Christian Gonzatti, 29, doutor em comunicação, professor do IFRS (Instituto Federal do Rio Grande do Sul) e pesquisador de questões de gênero e sexualidade, diz que os recursos visuais coloridos e divertidos utilizados por Xuxa traziam à tona o estereótipo gay, mas também geravam identificação com signos femininos.

"Ao mesmo tempo em que havia personagens como Pit Bitoca, que reforça preconceitos, um menino podia se identificar com uma nave rosa, brilhos, desenhos de beijos, performances de feminilidade e a própria Xuxa, o que, de alguma maneira, potencializava o feminino que podia ser aceito sem punição. Ali o feminino é festa, alegria, ilariê", diz.

Para a ilustradora Luiza de Souza, 30, que se entendeu uma mulher bissexual mais tarde, as violências estavam naquilo "que se fala baixinho e pelas costas". "Em muitos momentos, me segurava quando a Xuxa dizia que está ‘tudo bem em ser diferente dos outros’ e 'seus sonhos são válidos’", diz.

A música foi a forma como a apresentadora impactou a infância de Luiza e, hoje, também o seu trabalho. A música "Lua de Cristal", cantada por Xuxa, guia "Arlindo", uma história em quadrinhos de um adolescente LGBTQIA+ que vive no interior do Rio Grande do Norte.

"A letra da música é poderosa para as pessoas LGBTQIA+ acharem força para procurar seu lugar no mundo", diz Luiza. Para ela, foi criada uma "corrente de positividade" que evoca ao sonho àqueles que às vezes não tinham a oportunidade de sonhar, submetidos à violência só por ser quem eram desde criança, isso fica no coração da gente e reverbera no nosso trabalho.

Apesar de publicações que exaltam Xuxa como uma referência para este público, alguns perfis nas redes discordam dessa centralidade da apresentadora, pois, na época havia também personagens como Vera Verão, interpretada por Jorge Lafond. Para Gonzatti, Xuxa era o referencial possível no contexto dos anos 1980 e 1990, ainda que atendesse aos padrões estéticos e não fosse submetida às mesmas violências que as pessoas LGBTQIA+.

"Naquele momento não tínhamos figuras como RuPaul. Tínhamos Vera Verão, interpretada por Jorge Lafond, que era colocada num lugar de escárnio e deboche para gerar riso heterossexual, não parar gerar potência e encorajamento. A Xuxa está no lugar de buscar o queer na norma. É uma mulher branca, cis, hétero, que performa heteronormatividade hegemônica", diz Gonzatti.

Pautas como homofobia e racismo também foram levantadas nos comentários nas redes envolvendo o tema. Para Gonzatti, é importante agora reverberar da Vera Verão, destacar a grandeza de Jorge Lafond e como o ator foi vítima de preconceitos na televisão.

Montagem mostra publicações feitas no Twitter sobre o impacto da Xuxa na infância de pessoas LGBTQIA+
Montagem mostra publicações feitas no Twitter sobre o impacto da Xuxa na infância de pessoas LGBTQIA+ - Reprodução/Twitter

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