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Conheça Iury Simões, que pinta em aquarela crônicas de São Paulo

Chamado de 'poeta das cores' por seguidores, artista retrata cenas e anônimos da capital paulista

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São Paulo

Da janela de seu apartamento no centro de São Paulo, o cearense Iury Simões pinta rápidos retratos em aquarela de desconhecidos que avista caminhando pela rua.

Para definir quem serão os personagens, o artista plástico de 30 anos busca, em meio aos tons cinzas da capital paulista, habitantes que fujam do óbvio e tragam mais cores em suas vestimentas. "Paulistano gosta muito de usar preto ou cinza", conta ao #Hashtag.

Ele se propõe a observar os pedestres, guardar as principais características das silhuetas e, então, reproduzir em aquarelas, usando a pequena paleta que carrega quatro pigmentos primários.

O artista plástico Iury Simões, que pinta aquarelas da janela de seu apartamento
O artista plástico Iury Simões, que pinta aquarelas da janela de seu apartamento - Reprodução/Instagram

"Eu consigo observar o quão diferente são as cores do meu Nordeste e as daqui do Sudeste, em São Paulo. Quando aparece uma cor, uma vida, eu tenho que registrar. Acho que é uma lembrança afetiva."

Iury Simões

artista

A dificuldade é utilizar da memória fotográfica para o registro e, também, colorir a partir de um número restrito de tons, balanceando a pigmentação e a quantidade de água.

As minipaletas, construídas por Simões com palitos, caixas de pastilhas, pendrives e relógios desmontados, são pensadas em um formato anatômico que promove agilidade na hora de pintar. "Eu estava perdendo tempo ao abrir o kit e acabava esquecendo da pessoa."

O resultado são os mais de 720 retratos que compõem a série "Andarilhos". A meta é chegar ao marco de mil desenhos para constituir seu acervo e organizar uma exposição.

Ele costuma demorar 10 minutos para concluir uma arte. "É como se fosse uma fotografia visual, onde eu simplifico todas as formas, mas sem perder a essência do personagem. E tento sempre ser muito respeitoso", diz.

Para ele, o efêmero do cotidiano ganha tom de extraordinário. "Sempre tive medo de acabar esquecendo das coisas. Então, fazer esses registros me dá um certo conforto."

O segredo é não ter apego ao resultado final. Para o artista, o mais importante é mostrar o processo. "Muitas vezes as cores não batem ou eu esqueço algum detalhe, como um relógio ou a cor do tênis, mas o interessante é apenas usar o tempo e o material que eu tenho para produzir."

Desenhar o que observa pela janela é um hábito que começou durante o isolamento social no início da pandemia de Covid-19. Antes, em 2019, Simões se mudou de Fortaleza para São Paulo e vendia suas obras no Beco do Batman, na Vila Madalena.

Recluso em sua residência, decidiu retratar quem via à distância. Mostrar esse processo na internet foi uma sugestão de sua namorada —e funcionou, já que um dos primeiros vídeos atingiu mais de 5 milhões de visualizações.

Com as filmagens, Simões tenta desmistificar a técnica. "Não é dom", afirma, "É receita de bolo, é prática seguindo um padrão muito específico de repetição.".

Além da dedicação às redes sociais, ele trabalha em uma empresa de design de interiores e estuda arquitetura. Nos finais de semana, faz retratos em casamentos e outras encomendas. Ele, inclusive, ilustrou o caderno especial da Folha para os 470 anos de São Paulo.

Para o artista, seu trabalho pode ser enquadrado como uma espécie de crônica da vida na cidade. Um dos desenhos mais recentes foi feito em um copo de café, no qual retratou uma feira.

Em seu perfil, aderiu ao apelido sugerido por um seguidor, "poeta das cores", apesar da alcunha despertar nele medo de soar piegas. "Eu falo palavras simples, do dia a dia, tento não florear tanto, mas sempre tem uma reflexão por trás de tudo que eu faço."

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