O Preto Cozinha é uma das boas novidades da temporada. Ocupa uma ampla casa, ali no buchicho da rua Fradique Coutinho, que teve a reforma inspirada nos casarões do Carmo, bairro de Salvador. As notáveis portas da fachada, inclusive, são peças de demolição de um imóvel da terra de Rodrigo Freire, advogado e cozinheiro soteropolitano, que batizou a casa com seu apelido de infância.
O cardápio é enxuto mas com opções certeiras. Passeia por clássicos da cozinha baiana que foram renovados pelo olhar contemporâneo de Rodrigo. Para beliscar, sugestões como o pão delícia, macio e levemente adocicado, aparece recheado com carne louca (R$ 27) em uma combinação singela e arrebatadora. O mexilhão no leite de coco (R$ 47) chega banhado em um molho enriquecido com um mix de pimentas e nasce como uma versão da lambreta, já que o molusco, tão comum na Bahia, tem preço proibitivo em São Paulo. Vem acompanhado de fatias de pão de fermentação natural para serem chuchadas no molho, que não deve ser desperdiçado. Já o camarão encapotado (R$ 34), presença certa em festas na Bahia, traz um camarão VG envolto em massa de mandioca, empanado com crocante de tapioca e frito. Para ser apreciado com calma.
Para acompanhar as entradas, drinques consistentes do bardender Christopher Carijó. Provei a refrescante Pancadinha (R$ 44) que combina rum, leite de coco e limão-siciliano e é finalizada com cocada queimada. Para dias frios vai bem o Chocou Whiskey (R$ 47) feito com Bourbon, chocolate cremoso 70%, chocolate ao leite e menta da casa. O bar está localizado no piso inferior, junto a um estar que se abre para o arborizado quintal com mesas e aquecedores, providenciais em noites frias.
Dentre os pratos principais, o arroz de xinxim (R$ 67) se destaca pela narrativa e originalidade. Rodrigo inspirou-se na receita da avó, que aumentava a comida usando o xinxim de galinha, quando recebia as visitas de surpresa. Para o chef, "este é o prato mais injustiçado da culinária baiana, já que não tem o mesmo lugar ao sol da moqueca, por exemplo". O prato chega em forma de arroz caldoso com sobrecoxa de frango desossada em molho de camarão seco e castanha, guarnecido de farofa de banana-da-terra. Para os carnívoros, a carne de sol (R$ 94) traz um vistoso filé de alcatra maturado e grelhado no fogo. Chega acompanhado de um sedoso purê de mandioca e vinagrete de maxixe. Já o arroz vegetariano (R$ 67) é a opção para quem não come carne. O arroz vem com coco e castanhas, escoltado por minilegumes grelhados. São pratos que Rodrigo recriou com base em suas memórias afetivas mas renovados pela técnica e por sua preocupação com a sustentabilidade. Além do aproveitamento integral de itens como o coco e o coentro, o menu traz um aviso: "os ingredientes do cardápio respeitam o período de defeso e os locais protegidos de pesca".
Para finalizar a refeição, a cocadinha (R$ 34) é a sobremesa da casa e congrega delícias típicas da mesa baiana. A cocada de forno chega com sorvete de tapioca sobre um disco crocante de bolinho de estudante frito. Tudo isso apoiado em um delicado creme e coberto por raspas de coco queimado que atiçam o paladar a cada colherada. Os sorvetes artesanais também aparecem nos sabores coco, paçoca, cupuaçu e tapioca, mas como resistir à danada da cocadinha?
Preto Cozinha - mapinha aqui
Rua Fradique Coutinho, 276, Pinheiros.
Funcionamento: Segunda, quarta e quinta-feira, das 12h às 23h. Terça-feira: fechado. Sexta e Sábado, das 12h à 1h. Domingo, das 12h às 18h.
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