Maternar

No blog, as mães Havolene Valinhos e Tatiana Cavalcanti abordam as descobertas do início da maternidade

Maternar - Havolene Valinhos e Tatiana Cavalcanti
Havolene Valinhos e Tatiana Cavalcanti
Descrição de chapéu Folha Mulher maternidade

Minha história: Após anos tentando, vou comemorar o Dia das Mães com minha filha no colo

Tatiana Cavalcanti engravidou de Olívia aos 42 anos após fazer tratamentos de infertilidade

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São Paulo

O grande drama de uma mulher que tenta engravidar é a incerteza do sucesso. Se eu pudesse voltar no tempo e falar com aquela Tatiana amargurada e insegura de 2019, que acabara de sofrer um aborto e, aos 39 anos, estava perdendo as esperanças de ser mãe biológica, diria: "calma, você terá seu bebê no colo, apenas seja resiliente".

Quatro anos depois, cá estou eu com Olívia no braços, aos 43, por fertilização in vitro. Olhando para trás, a gente quase esquece o quanto sofreu, a necessidade vulcânica de desabafar com mulheres na mesma situação (muitas vezes as únicas que entendem seu dilema), as noites seguidas chorando após algum obstáculo adiar o início do tratamento ou até mesmo quando tudo simplesmente dava errado.

Naquele novembro de 2019, ao completar 40 anos, escrevi aqui nesta Folha um texto doloroso contando sobre a dor de perder um filho no ventre com dez semanas. Na época, quis fazer um alerta às mulheres sobre a importância de pensar na maternidade mais cedo. Volto aqui para contar a saga para conseguir finalmente realizar meu sonho e deixar aqui, também, uma ponta de esperança.

Mulher branca e grávida está sentada no chão de um  parque dentro de um coração feito de injeções, onde também se lê o nome "Olívia"
A jornalista Tatiana Cavalcanti grávida aos 43 anos, dentro de um coração de injeções que aplicou ao longo da gestação, no parque Ibirapuera, em São Paulo - Arquivo pessoal

Mas minha história com final feliz, é sempre bom deixar claro, é um conto de fadas, praticamente a exceção, já que os óvulos envelhecem e ficam cada vez mais raros com a idade. Foram anos de luta e tratamentos caríssimos para engravidar, tudo isso porque o relógio biológico não para. Não é uma jornada simples ou fácil. Aliás, é bem solitária. Envolve desgaste emocional e financeiro que podem ser devastadores se não houver ajuda e o apoio de uma rede.

A esperança de ver uma mulher com idade biológica tão avançada, como no meu caso, não pode servir de parâmetro para "relaxar" e esperar acontecer lá na frente, porque essa decisão pode não ter volta. É preciso acabar com esse mito de que hoje em dia a mulher pode engravidar de um filho biológico em qualquer idade porque os tratamentos são avançados.

Até é verdade que a tecnologia ajuda, mas a ciência ainda não encontrou uma solução mágica para o envelhecimento dos óvulos, motivo que leva muitas tentantes a recorrerem a um banco de doadoras de óvulos. Parece que até a biologia insiste em ser machista a ponto de limitar a vida fértil feminina.

Eu fiz a primeira fertilização in vitro aos 39 anos, recém-completados. Tive cinco embriões, mas não fiz biópsia (análise dos cromossomos), um erro do qual me arrependi posteriormente, pois perdi um tempo precioso. Coloquei dois no útero, que resultaram na minha gravidez de 2019. Com dez semanas, descobri que o coração do bebê havia parado e que eu sofreria um aborto, o que aconteceu 15 dias depois.

Tive de respirar fundo e, no tempo em que esperei para voltar a tentar engravidar novamente, fiz vários exames, inclusive genéticos. Descobri uma trombofilia. Por isso, apliquei diariamente na barriga, às vezes no braço e nas coxas, uma injeção de anticoagulante (as picadinhas de amor). Minha barriga ficava toda roxinha.

Em fevereiro de 2020, fiz um procedimento para a retirada de um pólipo e, assim, "limpar a casinha". Estava tudo certo para a transferência (procedimento quando o médico coloca o embrião dentro do útero) no mês seguinte. Mas a pandemia, implacável, fechou tudo, inclusive as clínicas.

Isso aconteceu numa fase em que eu não tinha tempo a perder, já estava com 40 anos. A cada menstruação, minha esperança ia se esvaindo aos poucos, mas nunca desisti, tive de esperar. Sentia-me no corredor da morte. Fiquei estagnada.

Nesse meio tempo, descobri a importância em consultar uma nutricionista para, com a ajuda de um especialista, ter a alimentação adequada para cada fase do tratamento. Não basta achar que se come de forma saudável, é importante consultar alguém que te guie a fazer a coisa certa.

Mas as mudanças levam tempo para equilibrar o corpo e, com apenas um mês passando com nutricionista, me precipitei e fiz nova tentativa de fertilização in vitro. Tive três embriões aneuploides (não aptos a serem transferidos ou incompatíveis com a vida). Mais uma facada no lado psicológico e financeiro.

Daí por diante decidi esperar meu corpo se equilibrar com a nova alimentação, passei a consumir geleia real e outras dicas fundamentais passadas pela nutricionista, além da acupuntura. Foram seis meses de espera, até que meu conto de fadas finalmente começou a tomar forma.

Em fevereiro de 2022, aos 42 anos, fiz nova captação e consegui 22 óvulos (praticamente o dobro de anos anteriores). Desses, 15 embriões foram formados nos primeiros três dias. Como para fazer biópsia é preciso esperar o quinto dia (fase chamada de blastocisto), sete embriões chegaram lá. Desses, tive um embrião apto a ser transferido.

Em agosto fiz a transferência e enfim engravidei. Olívia nasceu em uma terça-feira chuvosa com 3.035 kg e 47,5 cm. Quando os médicos a retiraram, chorei de emoção. Ela veio direto para o meu peito, me acalmei e só tive olhos para ela. Nunca vou esquecer o olhar daquele pacotinho, o mais lindo que já vi e verei na vida.

Esses primeiros dias ao lado dela têm sido intensos e revolucionários. A espera para tê-la no meu colo foi tão grande e repleta de desafios dolorosos, além das incertezas, que não ligo de acordar quantas vezes forem necessárias para trocar sua fralda ou dar de mamar.

A amamentação, aliás, tem sido o maior desafio hoje, mas estamos nos acostumando uma com a outra e tem sido uma experiência única. Sou a mulher mais feliz do mundo por poder celebrar meu primeiro Dia das Mães ao lado do amorzinho da minha vida.

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