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Salvador Nogueira

Astrônomos encontram possível exolua em meio a dados do Kepler

Satélite seria 2,6 vezes maior que a Terra, orbitando planeta como Júpiter

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Garimpando dados do telescópio espacial Kepler, um grupo de pesquisadores encontrou uma candidata a exolua, ou seja, um satélite natural orbitando um planeta fora do Sistema Solar. É apenas a segunda detecção do tipo até hoje, e os astrônomos chegaram bem perto de confirmar sua existência (99% de chance de ser real), mas ainda assim cautela é a palavra de ordem.

O trabalho foi liderado por David Kipping, da Universidade Columbia, em Nova York, e se concentrou em uma amostra de 70 planetas gigantes gasosos descobertos pelo Kepler que estão em órbitas longas ao redor de sua estrela, com duração superior a um ano.

Um processo criterioso se seguiu, com a análise estatística dos trânsitos planetários observados (marcados pela redução temporária do brilho das estrelas-mães conforme o planeta passava à frente delas) em busca de sinais de uma exolua companheira.

Concepção artística da exolua Kepler-1708 b-i orbitando um planeta similar a Júpiter
Concepção artística da exolua Kepler-1708 b-i orbitando um planeta similar a Júpiter - Helena Valenzuela Widerström/Universidade Columbia

O método básico foi contrastar a curva de luz observada pelo Kepler com a esperada caso houvesse um planeta e uma lua no mesmo trânsito. Só esse procedimento reduziu os 70 a 11 possíveis detecções. Novos testes estatísticos foram aplicados aos remanescentes, que deixaram apenas 3, então submetidos a análises específicas para cada um deles. E aí restou só um que os cientistas não conseguiram descartar de jeito nenhum: o planeta joviano Kepler-1708 b.

Ele teria diâmetro um pouco menor que o do nosso Júpiter (90%), e o melhor encaixe entre modelos e as curvas de luz observadas sugere que ele tenha uma exolua com diâmetro 2,6 vezes maior que o da Terra. Seria um satélite natural muito maior do que todos os que já vimos no nosso Sistema Solar, o que parece bem bizarro e desafia nossos modelos de formação de luas.

Em compensação, surge como boa companhia quando ao lado da única outra exolua candidata conhecida, encontrada em 2018 (pela equipe do mesmo David Kipping). Ela orbitaria o planeta gigante gasoso Kepler-1625 b, um pouco maior que Júpiter, e teria o tamanho de Netuno, ou seja, cerca de 4 vezes o da Terra.

Apesar de a taxa de falsos positivos para a análise realizada pelos pesquisadores ser de modesto 1%, eles lembram que foram analisados 70 alvos ao todo, o que torna o risco de erro de 1% nada negligenciável. Assim como a exolua de Kepler-1625 b, a de Kepler-1708 b deve seguir classificada como candidata até que dados mais conclusivos possam ser obtidos.

Ainda assim, o fato de que há dois casos similares indica que podemos mesmo estar diante de exoluas. Embora os modelos de formação tenham dificuldade de explicá-las, não custa lembrar que o mesmo aconteceu com a descoberta dos primeiros exoplanetas, mundos do porte de Júpiter em órbitas ultracurtas. No fim, eles eram reais. O mesmo pode suceder com essas exoluas grandonas, que trazem consigo outra intrigante possibilidade: a de que algumas delas, orbitando planetas na zona habitável de sua estrela, possam ser similares à Terra.

Esta coluna é publicada às segundas-feiras, na Folha Corrida.

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