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Salvador Nogueira

Grupo acha buraco negro nascido de supernova que deu chabu

Astro fica na Grande Nuvem de Magalhães; descoberta teve participação brasileira

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Um grupo internacional de astrônomos com participação brasileira encontrou um astro binário com uma configuração há muito buscada, mas até agora jamais confirmadamente observado: uma estrela de alta massa, dentre as maiores que se vê por aí, acompanhada por um buraco negro que, apesar da proximidade, não está roubando matéria de sua companheira. Para compor a bizarrice, o buraco negro do sistema parece ser fruto de uma supernova que deu chabu –não detonou com a força que normalmente teria.

Vamos desempacotar a história, a começar pelo que já é amplamente sabido: estrelas de alta massa não só costumam vir em pares como terminam suas vidas em colapso, depois que seu núcleo esgota a capacidade de produzir energia. Quanto mais massa tem uma estrela, mais depressa isso ocorre.

Encontrar pares em que uma das estrelas de alta massa, por ser maior, já virou buraco negro, enquanto a outra ainda não, é relativamente simples –mas só quando o buraco negro está devorando sua vizinha, caso em que o processo emite copiosas doses de raios X. O problema é que, ao mesmo tempo em que isso acontece, a órbita de um astro ao redor de outro é circularizada por efeito de maré, apagando os sinais deixados pela detonação e morte da estrela que originou o buraco negro (espera-se que essas explosões violentas não sejam perfeitamente simétricas, dando um "chute" no astro que seria identificável a partir de sua órbita).

Concepção artística do sistema VFTS 243, contendo um buraco negro e uma estrela de alta massa
Concepção artística do sistema VFTS 243, contendo um buraco negro e uma estrela de alta massa - ESO/L. Calcada/Reuters

É aqui que entra o novo achado, localizado na Nebulosa da Tarântula, na Grande Nuvem de Magalhães, e identificado com base em seis anos de observações feitas com o VLT (Very Large Telescope), do ESO (Observatório Europeu do Sul), no Chile. É uma binária em que uma das estrelas (que antes era a maior das duas) já virou buraco negro (e agora só tem cerca de 9 massas solares) e a outra não (com 25 massas solares). Não há sinal na órbita que indique que houve um "chute" significativo, o que faz os astrônomos suporem que o colapso em buraco negro não veio com uma potente explosão de supernova –no máximo uma que deu chabu.

Explica Leonardo Almeida, astrônomo da UFRN (Universidade Federal do Rio Grande do Norte) e um dos autores do trabalho, publicado na Nature Astronomy: "Por fazer parte de um sistema binário, a matéria que seria ejetada na supernova acabou sendo transferida para a secundária. Esse processo deixa o núcleo de ferro da estrela doadora praticamente nu e, portanto, o colapso pode não ser sucedido por explosão de supernova com grande quantidade de matéria."

O encontro desse par inédito pode jogar luz sobre diversos problemas da astronomia, como a natureza dos vários tipos de supernova e a frequência de fusões de buracos negros estelares de alta massa que vêm sendo detectados por ondas gravitacionais. Fora o que é legal por simplesmente mexer com a nossa imaginação, ao ajudar a recontar a história de vida de astros muito diferentes do nosso modesto Sol.

Esta coluna é publicada às segundas-feiras, na Folha Corrida.

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