A revolução da redução do custo de acesso ao espaço começa a se propagar para além da órbita terrestre. A empresa americana Rocket Lab anunciou na última terça-feira (16) que enviará uma missão científica não tripulada a Vênus, com o objetivo de buscar sinais de vida nas nuvens do planeta.
Será a primeira missão interplanetária privada, e o plano é realizar o lançamento em maio de 2023, com chegada ao mundo vizinho em outubro. Alternativamente, uma segunda janela para o voo se abre em janeiro de 2025.
Desde o início da era espacial, Vênus é tido como inóspito à vida, com temperaturas similares às de um forno de pizza à superfície (460° C) e uma atmosfera ultradensa, seca e ácida. Contudo, alguns cientistas mantêm que esse sempre foi um descarte apressado. É possível que Vênus tenha tido oceanos em seu passado, onde vida poderia ter evoluído, e a alta atmosfera do planeta, entre 50 e 80 km acima da superfície, tem temperatura e pressão amenas.
O ar venusiano é quase desprovido de água e rico em ácido sulfúrico, mas observações têm sugerido a presença de química intrigante, possivelmente complexa, nas nuvens. Recentemente, causou frisson a suposta detecção de fosfina, molécula potencialmente associada a vida. Com isso, alguns cientistas ainda acham cedo jogar a toalha sobre vida em Vênus.
Para atacar a questão, a Rocket Lab (que opera um centro de lançamento na Nova Zelândia e outro nos EUA para seu pequeno foguete Electron) decidiu se emparceirar com um grupo liderado pelo MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts) para lançar uma missão a Vênus. Estamos falando de uma espaçonave de pequeno porte, chamada de Photon (e já lançada uma vez para impulsionar a missão lunar Capstone, da Nasa). Embarcada nela, voará uma sonda atmosférica, a primeira de uma série de Venus Life Finder Missions (missões de busca de vida em Vênus).
Ao mergulhar em Vênus, a pequena cápsula (de 20 kg) fará medições das partículas nas nuvens, ao longo de uma travessia de cerca de 5 minutos pela camada entre 60 e 45 km de altitude.
Para um segundo momento, o grupo de cientistas do MIT, liderado por Sara Seager, pensa em duas outras missões venusianas: um balão e um esforço de retorno de amostras. Por ora, está garantida apenas a primeira, a ser bancada pela Rocket Lab. O custo não foi divulgado, mas uma boa referência é a missão Capstone, lançada pela própria Rocket Lab para a Nasa, com preço de US$ 23 milhões. Em termos de missões interplanetárias, é uma pechincha. E, claro, além do potencial científico, a Rocket Lab está de olho no futuro: ao demonstrar a viabilidade de missões interplanetárias de baixo custo, a empresa espera atrair outros clientes dispostos a voar "leves" para fazer suas missões robóticas chegarem a seus destinos.
Esta coluna é publicada às segundas-feiras, na Folha Corrida.
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