Um grupo internacional liderado por astrônomos da Universidade do Texas em Austin (EUA) encontrou galáxias bem similares à Via Láctea –com braços espirais e uma barra central de estrelas– em imagens profundas do Telescópio Espacial James Webb, mostrando que astros desse tipo já eram bem comuns há 11 bilhões de anos.
É mais um dos exemplos de como o novo telescópio espacial, parceria das agências espaciais dos EUA (Nasa), da Europa (ESA) e do Canadá (CSA), mesmo em suas observações iniciais, começa a criar uma imagem mais clara da evolução do Universo jovem, sucedendo o famoso Hubble na missão de investigar as condições prevalentes no passado cósmico.
O trabalho, aceito para publicação no periódico Astrophysical Journal Letters, separou de início uma amostra de 348 galáxias antigas com massa igual ou superior a dez bilhões de sóis e, dessas, selecionou seis para analisar mais detidamente, pela clareza com que expunham a presença de espirais e uma barra central. (Não custa lembrar que antigas equivale a profundas, uma vez que a luz de astros distantes leva tempo enorme para trafegar de lá até aqui, refletindo o estado do Universo bilhões de anos atrás.)
As seis escolhidas para o exame mais detido refletem idades entre 8,4 bilhões e 11 bilhões de anos atrás. Uma delas, inclusive, havia sido previamente observada pelo Hubble, mas, nos comprimentos de onda em que o velho telescópio era capaz de captá-la, não passava de uma mancha indistinta. Com o Webb, e sua visão em infravermelho (para a qual a poeira é transparente), foi possível notar com clareza sua morfologia, ou seja, sua forma.
Com isso, está definitivamente provado que o cosmos já tinha galáxias espirais similares à Via Láctea, em forma e tamanho, pouco mais de 2 bilhões de anos após o Big Bang. Era algo até previsto por alguns grupos, mas que ainda carecia de confirmação sólida em observações.
O achado se alinha mais com simulações do Universo que sugerem o rápido aparecimento dessas características e forma um quadro consistente com tudo mais de novidade que se tem visto em tempos recentes, com ou sem o Webb, no sentido de demonstrar que a "adolescência" do cosmos foi rápida. Vale destacar que o novo telescópio, logo em suas primeiras observações, bateu recordes de distância e detectou galáxias que remontam a quando o Universo tinha 300 milhões de anos, ou seja, há 13,5 bilhões de anos.
O surgimento dessas estruturas, em particular uma barra central de estrelas, colabora para explicar como se deu o rápido crescimento dos buracos negros supermassivos no coração dessas galáxias, já que a barra ajuda a promover o fluxo de gás na direção central, estimulando a formação rápida de novas estrelas e alimentando esses poderosos glutões cósmicos.
O próximo passo da pesquisa agora é se debruçar sobre um número maior de galáxias para que se possa fazer uma comparação estatística entre a frequência de barras e espirais bem delineadas no passado e no Universo atual.
Esta coluna é publicada às segundas-feiras, na Folha Corrida.
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