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Mensageiro Sideral - Salvador Nogueira
Salvador Nogueira

Astrônomos sugerem que energia escura pode vir de buracos negros

Objetos estariam crescendo em massa no mesmo compasso da expansão do Universo

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Um grupo internacional de pesquisadores pode ter tropeçado na chave para decifrar o que é a energia escura. Segundo eles, ela poderia estar nos buracos negros. Mas essa é uma história complicada e ainda cheia de incertezas.

A coisa toda começou em 1998, quando o estudo de supernovas distantes indicou que a expansão do cosmos, de uns 5 bilhões de anos para cá, inverteu o sinal: antes estava freando, depois passou a acelerar. Vivemos hoje em um Universo com expansão acelerada. O que estaria causando essa aceleração? Na falta de uma explicação, os cosmólogos chamaram esse elemento de "energia escura". Ao que parece, esse misterioso componente foi gradualmente se tornando dominante ao longo do tempo. Segundo nossas melhores estimativas, ele deve responder por 68% de todo o conteúdo do Universo.

Eis que o grupo liderado por Duncan Farrah, da Universidade do Havaí (EUA), realizou um estudo, publicado no Astrophysical Journal, comparando as massas de buracos negros supermassivos de galáxias elípticas mais próximas às de seus equivalentes em outras mais distantes, refletindo situação de bilhões de anos atrás. "Porque não se espera que essas galáxias façam muita coisa, seus buracos negros centrais não deveriam crescer muito com o tempo", explica Farrah. Em contraste a isso, os pesquisadores notaram que os buracos negros do presente são bem maiores que suas contrapartes mais antigas.

Concepção artística de um buraco negro tragando material de uma estrela próxima
Concepção artística de um buraco negro tragando material de uma estrela próxima - ESO/Reuters

E aí vem a coincidência chamativa, destacada em um segundo artigo, no Astrophysical Journal Letters: os buracos negros parecem estar crescendo acoplados à própria expansão do Universo. O grupo de Farrah lança a possibilidade de que isso não seja mero acidente, e seus cálculos sugerem que uma associação zero entre uma coisa e outra tenha probabilidade inferior a 0,02%. Mais que isso, os pesquisadores sugerem que a produção de buracos negros ao longo do tempo cósmico responderia de forma adequada ao que se estima ser a quantidade total de energia escura, segundo nossos melhores dados.

A hipótese deles: em vez de ser uma energia dispersa de forma igual em todo o cosmos, a tal energia escura teria como fonte os buracos negros do Universo, que cresceriam em quantidade (e em massa) durante a expansão cósmica e responderiam pela inversão de sinal na aceleração, conforme observada pelos astrônomos. Segundo Kevin Croker, coautor dos dois estudos, é possível obter o mesmo resultado cosmológico se a energia escura se distribuir de forma perfeitamente uniforme ou se for localizada e concentrada em muitos pontos pequenos – como seria o caso dos buracos negros.

A ideia é no mínimo intrigante. Contudo, ainda resta um longo caminho para que se forme convicção de que essa é a resposta para o enigma da energia escura. Para começar, é preciso ter a certeza de que realmente há esse crescimento cosmológico da massa dos buracos negros. Depois, ver se modelos do cosmos que atribuam e eles a função de energia escura funcionam mesmo. Fato é que, em meio a tantas hipóteses explicativas puramente teóricas, essa vem com um possível elemento observacional, o que a torna bem atraente.

Esta coluna é publicada às segundas-feiras, na Folha Corrida.

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