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Mensageiro Sideral - Salvador Nogueira
Salvador Nogueira

Missão a Urano pode partir em 2032, mas só chegará lá em 2050

Proposta figura como prioridade máxima entre os cientistas planetários

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Não é difícil entender por que levou tanto tempo até esquentar a discussão sobre uma missão a Urano. Basta citar que, atualmente, a aspiração é lançá-la em 2032 para aproveitar a gravidade de Júpiter como estilingue no caminho e chegar lá mais depressa –em 2050.

A exemplo de Júpiter e Saturno, Urano e Netuno são destinos fascinantes, que guardam pistas sobre mistérios científicos fundamentais, como a potencial elucidação da dança migratória que os planetas gigantes fizeram durante e logo após sua formação, dando ao nosso sistema planetário sua atual configuração.

Espera-se encontrar também em Urano e Netuno luas com oceanos subsuperficiais de água, a exemplo do que se vê em Júpiter e Saturno. Mas nada disso compensa o fato de que são mundos muito distantes, o que explica a baixa frequência de visitas por espaçonaves terrestres, bem como a escassez de informações que temos da dupla. Ambos só foram visitados uma vez, pela histórica Voyager-2, que visitou Urano em 1986 e Netuno três anos depois –em ambos os casos "passando lotada", num único sobrevoo.

Imagem da Voyager-2 na passagem por Urano, em 1986
Imagem da Voyager-2 na passagem por Urano, em 1986 - JPL/Nasa

Já faz duas décadas que os cientistas planetários clamam por uma missão dedicada a eles, como lembrou Kathleen Mandt, pesquisadora do Laboratório de Física Aplicada da Universidade Johns Hopkins (EUA), em artigo na última edição da revista Science. Na pesquisa decenal para o período 2003-2013, uma missão a Urano foi identificada como prioridade. Na edição seguinte, 2013-2023, apareceu como a terceira mais importante a ser conduzida, depois do retorno de amostras de Marte e da missão a Europa (ambas em estágio avançado agora). E na de 2023-2033, divulgada no ano passado, ela apareceu como a maior prioridade.

A Nasa costuma seguir essas recomendações, então parece que a hora de termos uma grande missão dedicada a Urano chegou. Ela deve ser composta por um orbitador e uma sonda atmosférica, que juntos poderão revelar vários mistérios específicos de Urano: por que, por exemplo, ele tem seu eixo de rotação "deitado" (98 graus de inclinação), com os polos ocasionalmente apontados para o Sol. Supõe-se que uma grande colisão nos primórdios da formação do Sistema Solar possa tê-lo deixado assim.

Também será importante investigar sua estrutura interna, que dará pistas de seu processo de formação, e explorar suas luas e anéis, apenas vistos de relance pela Voyager-2 (decerto há muitas luas ainda a serem descobertas, por sinal).

Em seu artigo, Mandt destaca a importância de engajar a comunidade internacional e destaca que a ESA (Agência Espacial Europeia) pode ser uma parceira no projeto, a exemplo do que já ocorreu com a missão Cassini-Huygens, destinada a Saturno.

Com expectativa de chegada em 2050 e duração de ao menos cinco anos, estamos falando de uma missão transgeracional: quem começar trabalhando nela pode se aposentar antes da conclusão, e quem for estudar os dados colhidos em Urano pode nem ter nascido ainda. Há algo de bonito na espera: é um lembrete de que a humanidade, a despeito de suas mazelas, sabe firmar compromissos com o futuro.

Esta coluna é publicada às segundas-feiras, na Folha Corrida.

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