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Salvador Nogueira

Europeus propõem método para pavimentar superfície da Lua

Técnica envolvendo lente e luz solar pode ajudar a desenvolver base lunar

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Mirando os esforços atualmente em andamento por vários países para estabelecer uma base na Lua, um grupo de pesquisadores europeus acaba de demonstrar um método prático para pavimentar o solo lunar, usando apenas uma lente e a luz do Sol.

É uma preocupação importante: a superfície da Lua é toda recoberta por uma poeira fina, chamada de regolito, que se eleva com extrema facilidade por conta da baixa gravidade. É um material que pode facilmente causar problemas para equipamentos e até para os astronautas.

Nas missões tripuladas Apollo, esse problema foi relativamente contido pelo fato de que cada nave pousou em um lugar diferente da Lua. Mas no estabelecimento de uma estação lunar, com descidas frequentes no mesmo local e tráfego constante de rovers, a situação fica mais perigosa.

Em laboratório, equipe cria com laser telhas triangulares a partir de simulação do solo lunar
Em laboratório, equipe cria com laser telhas triangulares a partir de simulação do solo lunar - ESA

Com efeito, há registros de que a alunissagem da Apollo 12, em 1969, ao levantar poeira na aproximação final, danificou a sonda não tripulada Surveyor 3, que pousou dois anos antes naquele mesmo local.

Uma forma de mitigar isso seria pavimentar o entorno de uma base lunar, criando plataformas para a descida de foguetes e vias para o tráfego de rovers. Foi nesse problema que se concentrou o grupo liderado por Juan-Carlos Ginés-Palomares, engenheiro da Universidade de Aalen, na Alemanha, no projeto Paver, da ESA (Agência Espacial Europeia).

Em artigo publicado no periódico Scientific Reports, o grupo propõe uma solução simples: o uso de uma lente para concentrar a luz solar e então derreter o regolito, transformando-o em telhas, desenhadas especificamente para se encaixarem umas às outras, tornando fácil a pavimentação de regiões da superfície a partir de material local e reduzindo o problema da poeira.

Para demonstrar a viabilidade do processo, a equipe de Ginés-Palomares usou no laboratório um laser em lugar da luz solar concentrada e expôs um material que simula o regolito lunar, fabricando com sucesso telhas encaixáveis com cerca de 25x25 cm.

O grupo analisou essas amostras fabricadas em termos de sua composição mineralógica, estrutura interna e propriedades mecânicas, e os resultados são encorajadores. Para obter o mesmo resultado na Lua a partir da luz solar, os pesquisadores estimam que seria necessário uma lente com área de 2,37 m2 (e 1,74 m de diâmetro aproximadamente).

É uma escala praticável para transporte da Terra à Lua, e dispensaria quaisquer outros equipamentos, como fornos para fazer as telhas ou mesmo painéis solares para fornecer eletricidade. Mas ainda é cedo para dizer que a tecnologia está pronta para uso. Ginés-Palomares diz que é preciso antes testar o desempenho das telhas sob um motor de foguete para garantir que elas podem resistir ao estresse.

De todo modo, é animador ver engenheiros já trabalhando em formas de tornar os recursos naturais disponíveis na Lua úteis às futuras missões tripuladas. É a diferença entre fazer algumas viagens, como foi com a Apollo no século passado, e ir para ficar, como se espera que aconteça neste

Esta coluna é publicada às segundas-feiras na versão impressa, na Folha Corrida.

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