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Salvador Nogueira

Exoluas detectadas pelo satélite Kepler são miragem, diz estudo

Estranhos astros do tamanho de Netuno parecem ser fruto de artefato estatístico

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A busca por exoluas –satélites naturais em torno de planetas fora do Sistema Solar– segue sendo uma tarefa inglória. As duas únicas candidatas mais firmemente estabelecidas agora parecem ter subido no telhado, de acordo com um novo estudo por uma dupla de astrônomos alemães. Com isso, os astrônomos parecem voltar à estaca zero nesse quesito.

Não é de todo surpreendente que seja tão difícil detectar exoluas. Se exoplanetas já não são uma molezinha de detectar e exigem a observação de efeitos indiretos (como a redução de brilho da estrela-mãe quando o astro passa à frente dela, ou o bamboleio gravitacional provocado por ele ao girar ao redor dela), exoluas seriam ainda mais difíceis.

O único método que até hoje trouxe mínima esperança para a detecção é o dos trânsitos, explorado por missões como a do célebre telescópio espacial Kepler. A ideia é que, junto da redução de brilho causada pelo planeta ao passar à frente da estrela, talvez fosse possível detectar a presença de luas por conta de diferentes padrões a cada trânsito, dependendo da posição dela com relação ao planeta.

Concepção artística de Kepler-1625 b e sua hipotética lua, que aparentemente não existe
Concepção artística de Kepler-1625 b e sua hipotética lua, que aparentemente não existe - ESA

Com efeito, foi dos dados do Kepler que vieram as poucas possíveis detecções. em 2018, o grupo de David Kipping, da Universidade Columbia, em Nova York, anunciou uma possível exolua em torno do planeta Kepler-1625 b. Ele era um gigante gasoso do tamanho de Júpiter. E ela, pasme, tinha o tamanho de Netuno, com diâmetro cerca de quatro vezes maior que o da Terra.

Em contraste, a maior lua do Sistema Solar, a joviana Ganimedes, tem cerca de 40% do diâmetro da Terra. E nenhum modelo de formação de luas conseguia explicar como esse mamute do tamanho de Netuno pode ter surgido como uma lua, mesmo em torno de um gigante como Júpiter.

Não bastasse isso, a equipe de Kipping voltou à carga em 2022, indicando que uma dupla de astros similar poderia existir em torno da estrela Kepler-1708. Será que, contrariando expectativas, teorias e modelos, a natureza poderia ser mesmo craque em produzir exoluas gigantes?

A resposta é "provavelmente não", segundo René Heller, do Instituto Max Planck, e Michael Hippke, do Observatório de Sonneberg, na Alemanha. Escrevendo na Nature Astronomy, a dupla apresenta uma nova análise dos dados que levaram às duas identificações do grupo de Kippling e demonstra que elas parecem ser resultado de um artefato de encaixe na hora de equiparar as observações a modelos de trânsito. Ou seja, uma miragem. "Concluímos que Kepler-1625 b e Kepler-1708 b provavelmente não são orbitados por uma grande exolua", afirmam.

De fato, se houvesse astros como os descritos pelo grupo de Kipping, seu sinal seria bem mais forte nos dados do Kepler do que de fato pareceu no que vai se configurando como um falso positivo.

Seria esse o fim da história? Decerto não. Trata-se apenas da demonstração de que nossas tecnologias de observação ainda não chegaram ao ponto em que podem detectar exoluas com confiança –ainda mais com a expectativa de que elas tendem a ser menores que a maioria dos planetas. Futuros telescópios poderão fazer melhor, e segue sendo aposta convicta dos astrônomos que as luas não são um fenômeno exclusivo do Sistema Solar. Mas, pelo método científico, é sempre preciso ver para crer.

Esta coluna é publicada às segundas-feiras na versão impressa, na Folha Corrida.

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