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Mensageiro Sideral - Salvador Nogueira
Salvador Nogueira
Descrição de chapéu astronomia

Nova imagem de buraco negro revela mudanças em seu entorno

Deslocamento da região mais brilhante é compatível com predições teóricas

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O consórcio internacional responsável pela primeira imagem de um buraco negro acaba de voltar à carga com uma nova observação, que revela mudanças no entorno do misterioso objeto –mas tudo de acordo com o que se esperava a partir de predições teóricas.

O dia 10 de abril de 2019 entrou para a história quando o grupo do EHT (Event Horizon Telescope) apresentou ao mundo uma visão do buraco negro supermassivo que mora no coração da galáxia M87 –um gigante que tem 6,5 bilhões de vezes a massa do Sol, localizado a 55 milhões de anos-luz da Terra.

O EHT na verdade é um conjunto de radiotelescópios espalhados pelo mundo que operam em sincronia para colherem, juntos, observações que só poderiam ser obtidas por uma única antena que tivesse tamanho comparável ao da própria Terra. Só com a resolução extraordinária obtida pelo grupo é possível observar a sombra do buraco negro, região interna ao horizonte dos eventos, ponto a partir da qual nada pode escapar de sua gravidade, nem mesmo a luz. Daí a escuridão no centro da imagem.

Imagem original obtida em 2017 pelo Event Horizon Telescope do buraco negro em M87, e uma nova versão, captada em 2018
Imagem original obtida em 2017 pelo Event Horizon Telescope do buraco negro em M87, e uma nova versão, captada em 2018 - EHT

E só não é tudo escuro porque o objeto é circundado por matéria que está para ser consumida pelo buraco negro e, antes de cair nele, é acelerada a grandes velocidades, emitindo radiação que a torna observável. A distribuição dessa matéria no entorno do buraco negro varia com o tempo, o que pode ser observado registrando o objeto em momentos diferentes.

Os dados que produziram a primeira imagem do centro de M87 foram colhidos em 11 de abril de 2017 e vêm sendo esmiuçados até agora em estudos científicos. Mas novas observações foram realizadas em 21 de abril de 2018, contando com a inclusão de mais um importante telescópio, na Groenlândia, e melhorias no sistema de coleta e processamento de dados de todo o EHT, produzindo uma nova imagem.

A sombra interna continua lá, basicamente do mesmo tamanho, assim como o anel circundante, produzindo confirmação para a observação original de 2017. A novidade é que o ponto mais brilhante do anel girou cerca de 30 graus de um ano para outro. É uma variação que está dentro das predições teóricas do comportamento da matéria no ambiente extremo que é o entorno de um buraco negro supermassivo.

O novo resultado, publicado neste mês de janeiro em artigo no periódico Astronomy & Astrophysics, é só o começo de uma nova bateria de imagens e resultados que o EHT deve produzir, não só do buraco negro central da M87, mas também de seu equivalente (bem mais modesto) existente no coração da Via Láctea, objeto conhecido como Sagitário-A* (diz-se "Sagitário-A-estrela").

Para além dos dados colhidos em 2018, o conjunto de radiotelescópios também realizou campanhas de observação bem-sucedidas em 2021 e 2022. Os dados estão em processo de análise, e a próxima campanha para colher fotos de buracos negros deve vir até meados deste ano. Com isso, além de confirmar descobertas anteriores e aprimorar a capacidade de produzir essas imagens, os pesquisadores esperam avançar no estudo do campo magnético e do ambiente de plasma ao redor dos buracos negros supermassivos.

Esta coluna é publicada às segundas-feiras na versão impressa, na Folha Corrida.

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