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Mensageiro Sideral - Salvador Nogueira
Salvador Nogueira
Descrição de chapéu astronomia

Webb soluciona mistério associado à supernova de 1987

Explosão na Grande Nuvem de Magalhães resultou na criação de uma estrela de nêutrons

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Um mistério de quase 40 anos acaba de ser elucidado, graças ao poder do Telescópio Espacial James Webb. Ele se refere a um dos ícones da astronomia moderna, a supernova conhecida como SN 1987A.

Supernovas são ocorrências relativamente comuns na escala cósmica –imagens telescópicas de galáxias distantes as flagram aos montes essas explosões, muitas vezes resultantes do colapso de estrelas de alta massa. Mas são bem mais raras as que são tão próximas e brilhantes que podem ser estudadas em detalhes e até vistas no céu a olho nu. Pois bem, a SN 1987A foi a última dessas, observada na Terra em 1987, mas refletindo um evento que ocorreu há 160 mil anos (sim, a distância é de 160 mil anos-luz), na Grande Nuvem de Magalhães, galáxia-satélite da Via Láctea.

Para que se tenha uma ideia, a última supernova visível a olho nu de que se tinha notícia veio em 1604, quando sua aparição foi estudada e popularizada por Johannes Kepler, antes mesmo que Galileu Galilei apontasse o primeiro telescópio astronômico para o céu, em 1609.

Imagens feitas com o Telescópio Espacial James Webb com detecção de íons de argônio confirmam estrela de nêutrons como remanescente da supernova SN 1987A
Imagens feitas com o Telescópio Espacial James Webb com detecção de íons de argônio confirmam estrela de nêutrons como remanescente da supernova SN 1987A - Nasa/ESA/CSA/C. Fransson

Sabe-se que o tipo específico de supernova observado em 1987 é resultante da morte de uma estrela de alta massa. Quando seu combustível nuclear, ela se contrai violentamente e um efeito rebote expulsa suas camadas superiores pelo espaço --é a detonação que podemos ver. O resultado é a formação de uma nebulosa ao redor do astro, e no centro resta um caroço que pode ser uma de duas coisas: ou uma estrela de nêutrons ou um buraco negro.

O desfecho final depende da massa que sobra no cadáver estelar central. Se for muito acima de duas vezes a massa do Sol, a gravidade é tão grande que esmaga completamente a matéria, produzindo um buraco negro –objeto com gravidade tão intensa que nem a coisa mais rápida do mundo, a luz, pode escapar dele. Se for menor, a gravidade é insuficiente para causar um colapso completo, mas ainda degenera a matéria a ponto de socar elétrons dentro dos núcleos atômicos, convertendo prótons em nêutrons –daí o nome estrela de nêutrons.

Apesar dos insistentes estudos da SN 1987A, a nuvem de gás que circunda o local da explosão impede a observação do astro central, para ver o que de fato ele é. A dúvida durou até o advento do Webb, que foi apontado para lá em 16 de julho de 2022, com sua poderosa visão em infravermelho. A análise da luz captada revelou traços de átomos ionizados de argônio (que perderam elétrons) na nuvem de gás. E eles só podem ter ficado assim pela emissão próxima de fótons (partículas de luz) de alta energia –algo que um buraco negro não poderia fazer, mas uma estrela de nêutrons, sim.

O resultado, produzido pela equipe liderada por Claes Fransson, da Universidade de Estocolmo, na Suécia, foi publicado na revista Science e é só o começo de uma exploração mais detalhada de SN 1987A, que voltará a ser observada pelo Webb neste ano. Os pesquisadores esperam que mais dados permitam saber exatamente o que acontece por lá, o que ajudará a entender como funcionam todas as supernovas por colapso de núcleo, como é o caso dela. É o que tem para hoje, enquanto a humanidade aguarda a detonação da próxima supernova nos nossos arredores, quiçá visível a olho nu.

Esta coluna é publicada às segundas-feiras na versão impressa, na Folha Corrida.

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