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Mensageiro Sideral - Salvador Nogueira
Salvador Nogueira
Descrição de chapéu astronomia Vênus

Estudo aumenta chances de haver vida nas nuvens de Vênus

Experimento demonstra que aminoácidos podem sobreviver no ambiente ácido do planeta

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Um novo estudo conduzido por cientistas do MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts), nos EUA, aumenta as chances de que as nuvens de Vênus possam abrigar algum tipo de vida.

Trata-se de uma hipótese explorada desde os anos 1960, mas que ganhou muito impulso recentemente pela possível (ainda que controversa) detecção de fosfina na atmosfera venusiana. Nas quantidades supostamente presentes, ela poderia indicar a presença de vida.

Sabemos que a superfície de Vênus é inabitável, sob uma atmosfera 90 vezes mais densa que a terrestre, composta majoritariamente por dióxido de carbono. O efeito estufa lá é tão poderoso que a temperatura no solo nunca fica abaixo de 430 graus Celsius, mesmo à noite.

Imagem de Vênus obtida pela sonda Mariner 10
Imagem de Vênus obtida pela sonda Mariner 10 - Nasa

A alta atmosfera, contudo, numa faixa entre 48 e 60 km de altitude, tem temperatura e pressão similares às da Terra ao nível do mar, toleráveis para micro-organismos terrestres. Uma diferença importante é que as nuvens venusianas são ricas não em água (que existe em quantidades limitadas), mas em ácido sulfúrico –o que sempre foi tido como um impedimento para a vida.

O novo trabalho, que tem como primeiro autor Maxwell Seager, filho da prestigiada astrobióloga americana Sara Seager, ajuda a desfazer alguns desses temores. Em artigo publicado na revista Astrobiology, os pesquisadores testaram a resistência de 20 aminoácidos a concentrações de ácido sulfúrico diluídas em água similares às encontradas nas nuvens venusianas (até 98%) e descobriram que 19 deles sobrevivem ao menos com sua estrutura principal intacta, e mais da metade totalmente intactos, mesmo após quatro semanas de exposição.

Os aminoácidos são a base das proteínas, responsáveis pelo metabolismo e pelas estruturas que compõem células vivas, e sua sobrevivência em ambiente similar ao da alta atmosfera de Vênus reforça a hipótese de que o ambiente pode ser habitável. Claro, entre habitável e habitado vai uma enorme distância, e os cientistas fazem questão de ressaltar que o resultado não leva à conclusão de que deve haver vida em Vênus.

Para que isso seja verdade, é preciso primeiro que a vida tenha conseguido se originar naquele planeta e depois evoluir de tal forma a sobreviver nas nuvens de forma autônoma, sem qualquer dependência de um retorno à superfície. Pesquisadores acreditam que Vênus pode ter sido bem mais hospitaleiro bilhões de anos atrás, abrigando oceanos de água, antes que o efeito estufa descontrolado o transformasse no inferno quente que é hoje.

As respostas definitivas só virão com o estudo pormenorizado da atmosfera venusiana. Além da potencial presença de fosfina, há um estranho componente que absorve radiação ultravioleta e ninguém sabe o que é, mas alguns defendem que pode estar ligado à presença de vida. Respostas devem vir com as próximas sondas a serem enviadas ao planeta vizinho. Dentre elas está a primeira desenvolvida pela iniciativa privada, apoiada pela empresa americana Rocket Lab e coordenada por Sara Seager. Com lançamento marcado para janeiro de 2025, ela deve mergulhar nas nuvens do planeta em busca de moléculas orgânicas.

Esta coluna é publicada às segundas-feiras na versão impressa, na Folha Corrida.

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