Após dois anos de incertezas, a ESA (Agência Espacial Europeia) fechou contrato para levar a termo sua missão de astrobiologia marciana ExoMars. O rover Rosalind Franklin, destinado a procurar sinais de vida passada ou presente no planeta vermelho, deve partir no final de 2028.
Originalmente, a missão deveria ter decolado em setembro de 2022, numa parceria da ESA com a Roscosmos (agência espacial russa), que forneceria o módulo de pouso, aquecedores radioativos para o rover e o lançamento, a ser feito num foguete Proton.
Contudo, no meio do caminho havia uma guerra. Em fevereiro daquele ano, a Rússia invadiu a Ucrânia, e a ESA decidiu suspender todos os projetos de cooperação com a Roscosmos. A missão ExoMars foi para o limbo, e o rover, já pronto para voar, quase virou peça de museu. Literalmente. Eles cogitaram colocá-lo num museu.
E aí a Nasa veio ao resgate do projeto, oferecendo aquecedores de plutônio e um lançador – ainda a ser definido. Mas a participação da agência espacial americana era menor do que a que a russa anteriormente estava propiciando.
A última peça do quebra-cabeça se encaixou na terça-feira passada (9), quando a ESA fechou o contrato de 522 milhões de euros com a companhia Thales Alenia para servir como contratante do novo módulo de pouso para o rover, além de processar a montagem, integração e testes da espaçonave. O rover, praticamente já montado, terá de sofrer pouquíssimas adaptações para voar na nova plataforma, que ainda contará com sistemas desenvolvidos pela Airbus e um escudo térmico desenvolvido pela Ariane. Com isso, as três principais empresas do setor aeroespacial europeu estarão envolvidas no projeto.
O custo para recolocar a missão nos trilhos é alto, mas os europeus estão apostando que valerá a pena: não só o projeto poderá ser realizado de acordo com o planejado (fazendo valer o investimento de 1,3 bilhão de euros anteriormente gasto com ele), como a Europa terá desenvolvido um sistema próprio para entrada, descida e pouso em Marte.
Até hoje, apenas dois países realizaram missões bem-sucedidas em solo marciano: EUA e China. A Rússia até conseguiu conduzir um pouso, com a missão Mars 3, em 1971, mas o módulo parou de funcionar apenas 20 segundos após tocar o solo, não enviando dados úteis à Terra. Já o módulo Schiaparelli, desenvolvido por europeus e russos como protótipo do que seria usado com o rover Rosalind Franklin, acabou falhando em sua tentativa de pouso, em 2016. O projeto a ser desenvolvido agora é totalmente novo.
Caso tudo corra bem, a missão ExoMars promete: entre seus vários instrumentos científicos, o rover terá uma perfuratriz capaz de escavar a até dois metros de profundidade no solo marciano. Se houver alguma evidência bioquímica de que já existiu vida no planeta vermelho, é muito provável que ela seja encontrada no subsolo, protegida dos efeitos deletérios da radiação ultravioleta solar.
Esta coluna é publicada às segundas-feiras na versão impressa, na Folha Corrida.
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