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Mensageiro Sideral - Salvador Nogueira
Salvador Nogueira
Descrição de chapéu astronomia

Físicos propõem busca por sinais deixados por naves interestelares

Dupla sugere que a tecnologia de dobra espacial poderia ser detectada por telescópios

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De uns anos para cá, a Nasa passou a se interessar mais pela busca por tecnoassinaturas –sinais do uso de tecnologia que possam estar sendo gerados por outras civilizações inteligentes. Pode ser algo tão simples quanto a detecção de luzes artificiais no hemisfério escuro de um exoplaneta. Mas uma dupla de cientistas agora propõe uma busca mais ousada: a de sinais de que há alguém lá fora brincando de "Jornada nas Estrelas" e realizando voos interestelares mais rápidos que a luz.

É verdade que ninguém hoje sabe se é possível, que dirá como, percorrer essas distâncias em tempo razoável. Pelas leis da física, nada pode viajar pelo espaço mais rápido que a luz. Mas a relatividade geral oferece um caminho alternativo: em vez de viajar pelo espaço, simplesmente comprimir o espaço à frente da nave e esticá-lo atrás dela. Teoricamente, isso pode acontecer a qualquer velocidade, sem limites. É a chamada "dobra espacial", que foi popularizada em 1966 pelo seriado "Jornada nas Estrelas" e teve sua primeira descrição rigorosa formulada pelo físico mexicano Miguel Alcubierre, em 1994.

Com ela, além da viabilidade teórica, vieram alguns desafios, talvez intangíveis. Os dois maiores são que uma dobra capaz de permitir viagens interestelares exigiria quantidades brutais de energia e possivelmente energia negativa –algo que só é observado em quantidades ínfimas em fenômenos quânticos, quando muito. Diversos estudos posteriores vêm tentando variar esse esquema para reduzir a quantidade de energia e trabalhar apenas com energia positiva, mas, não, ninguém hoje tem a mais vaga ideia de como colocar isso em prática.

Ilustração da Nasa de 1998 mostrando uma nave hipotética viajando em dobra espacial
Ilustração da Nasa de 1998 mostrando uma nave hipotética viajando em dobra espacial - Nasa

E se alguma civilização mais avançada conseguiu isso? Erik Lentz, do Laboratório Nacional do Noroeste Pacífico, e Ryan Felton, do Centro Ames de Pesquisa da Nasa, ambos nos EUA, jogam essa ideia e propõem que talvez seja possível detectar, com nossos telescópios, sinais de que haja alguém criando as tais bolhas de dobra no espaço profundo.

Em artigo publicado no repositório arXiv, e ainda não revisado por pares, eles sugerem que o trânsito de espaçonaves em bolhas de dobra deixaria potenciais emissões eletromagnéticas (luz), gravitacionais (ondas) e de radiação (partículas) bem específicas, inconfundíveis com fenômenos naturais. Mais que isso, elas seriam detectáveis com nossos telescópios, supondo uma distância de 100 anos-luz, um percurso de pelo menos um ano-luz e uma bolha de dobra de um quilômetro.

Ainda não estamos prontos para começar a procurá-las, mas, segundo a dupla, quase. Destacando que não precisamos saber como criar um motor de dobra para perfilar suas possíveis interações com o meio interestelar, eles sugerem que se inicie um trabalho para caracterizá-las tão bem quanto possível e então passar a uma busca sistemática em observações astronômicas já feitas e arquivadas, a partir das bases de dados públicas dos observatórios Keck, de Green Bank e Europeu do Sul (ESO). Uma fase seguinte envolveria observações ativas, destinadas especificamente a esse fim, usando o Keck, o Conjunto de Telescópios Allen (ATA) e talvez o Observatório de Green Bank.

Como toda busca por inteligência extraterrestre, essa promete ser mais difícil que encontrar uma agulha num palheiro. Mas é interessante pensar que podemos procurar por aí sinais de tecnologias que no momento nem sonhamos em dominar. E vai que tem mesmo alguém passeando pela nossa vizinhança galáctica em bolhas de dobra?

Esta coluna é publicada às segundas-feiras na versão impressa, na Folha Corrida.

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