Morte Sem Tabu

Morte Sem Tabu - Camila Appel, Cynthia Araújo e Jéssica Moreira
Camila Appel, Cynthia Araújo e Jéssica Moreira
Descrição de chapéu Mente câncer

Após morte da sogra, roteirista filma sobre cuidados paliativos

Documentário "Sete Manhãs" será lançado hoje no Cremesp

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Foto do sol nascendo em Campinas-SP
Foto do documentário Sete Manhãs - Matheus Hass

Hoje, dia 19 de abril de 2023, às 20h, acontece o lançamento de "Sete Manhãs", um documentário inédito sobre o ensino de cuidados paliativos, produzido pelo projeto "O Que Te Assombra". O "OQTA"foi criado pelo compositor e advogado Thiago de Souza, que assina roteiro e direção do filme, e produz conteúdo sobre histórias inexplicáveis que têm relação íntima com a construção social dos lugares em que aconteceram. Uma de suas iniciativas são os passeios gratuitos "Saudade e suas vozes", que acontecem especialmente em cemitérios.

A ideia do documentário surgiu depois de o Thiago acompanhar o fim da vida da mãe de sua esposa, Maria Regina Valente Torres, a Rê, que teve um câncer metastático. No último mês de vida da sogra, Thiago e a esposa, Tatiana, foram a uma consulta médica no lugar da Rê, para que ela não precisasse sair de casa. Mesmo muito debilitada e em cuidados domiciliares, o médico prescreveu mais um ciclo de quimioterapia, sem grandes explicações. "Não sou médico, mas parecia óbvio que aquilo não serviria para nada", o Thiago me disse.

Resolveram consultar outro médico e ouviram a confirmação do que já temiam: a mãe da Tatiana estava na reta final da doença. O médico sugeriu o acompanhamento por uma médica paliativista, algo que, nas palavras do Thiago, "foi modificador pra mim e pra todo mundo que orbitava nossa família. A morte da Rê foi triste, mas muito menos sofrida. Ela foi embora do lado da família, acolhida pelos profissionais da saúde e com a plenitude de quem, antes de partir, resolveu todas as questões que estavam ao seu alcance".

Thiago percebeu que, se a Rê não tivesse tido acesso aos cuidados paliativos, ela teria sido direcionada ao isolamento de uma UTI até o término da sua vida, possivelmente intubada e submetida a todos os procedimentos protocolares, quem sabe até reanimada contra a sua vontade.

Mas ao acompanhar o ensino dos cuidados paliativos as sete manhãs que dão nome ao filme, Thiago entendeu que eles vão muito além de um acompanhamento no final da vida. "Além de não existir a regra da terminalidade, pois cuidado paliativo é um protocolo para doenças ameaçadoras da vida, aprendi que ele pode ser utilizado em qualquer fase da vida e por muito tempo", diz.

Câmera capta cilindro de oxigênio que figura entre a mobília no quarto de um paciente assistido em domicílio por profissionais de saúde acompanhados de alunos da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp
Cilindro de oxigênio figura entre a mobília no quarto de um paciente assistido em domicílio por profissionais de saúde acompanhados de alunos da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp - Thiago de Souza

Thiago captou depoimentos no ano de 2018, quando um estágio obrigatório pioneiro de introdução aos cuidados paliativos foi incluído na grade curricular da graduação de Medicina da Unicamp. O Diretor da Faculdade de Ciências Médicas da universidade, Cláudio Coy, diz que se trata de um legado importante do Professor Flávio Cesar de Sá. O legado de uma abordagem que olha para seres humanos que existem para além de suas doenças.

Nas palavras do Professor Flávio, importante personagem do filme: "tratar a doença não esgota o que um médico precisa fazer; para ser médico tem que cuidar da pessoa". A médica Jussara de Lima e Souza complementa: "Eu preciso enxergar que eu não tô tratando um fígado, um baço, um rim, eu estou tratando uma pessoa doente que tem um problema e estou cuidando de uma família que tem um ente querido que está doente".

Trata-se de um filme muito honesto com a realidade de doenças ameaçadoras da vida, dos limites da Medicina e da morte.

"Médicos entram no curso para salvar vidas, mas isso vai sendo quebrado ao longo do tempo. Quando a gente entende que existe um tempo para a nossa existência e que tudo bem se acabar, mas que deve acabar bem, a gente consegue cuidar das pessoas", disse Letícia Godoy – então estudante de Medicina. Hoje, Letícia e os demais colegas são médicos que saíram da faculdade sabendo o que são cuidados paliativos, o tamanho da transformação que podem fazer e, acima de tudo, que doenças não definem pessoas.

O lançamento do documentário Sete Manhãs faz parte das ações de comemoração de aniversário da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas, que completa 60 anos em 2023.

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