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Os bastidores do jornalismo nas periferias de SP

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Trabalhar em rede para ir mais longe

Quando feita de forma coletiva, a reportagem ganha mais amplitude

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Jessica Bernardo
São Paulo | Agência Mural

Meu pai apresentou os primeiros sintomas de Covid-19 na mesma época em que esta Folha noticiou a falta de testes rápidos para coronavírus nas farmácias de São Paulo. Com febre, tosse e dor no corpo, ele foi um dos vários paulistanos que tentou agendar um exame e não encontrou disponibilidade nas grandes redes de drogarias.

Em busca de um diagnóstico para ele, eu liguei em UPAs (Unidades de Pronto Atendimento) e AMAs (Assistências Médicas Ambulatoriais) da zona sul. Foi quando percebi que, assim como nas farmácias, algumas unidades da rede municipal de saúde de São Paulo também passavam por um desabastecimento de testes rápidos.

Na UPA Pedreira, em Interlagos, por exemplo, uma funcionária me disse que os estoques do exame estavam zerados, e que o RT-PCR, único teste disponível, levaria cinco dias para ter o resultado divulgado. A experiência me acendeu um alerta.

Auxiliar de enfermagem aplicar a vacina no braço direito de paciente em São Paulo
Vacinação em unidade de saúde do Jardim Nakamura, na zona sul de São Paulo - Léu Britto/Agência Mural

Da mesma forma que meu pai, outras pessoas também poderiam ter dificuldades para encontrar um teste na rede pública. Foi assim que surgiu a ideia de fazer um levantamento sobre a disponibilidade de exames de antígeno na capital paulista.

O resultado foi parar na reportagem "Testes rápidos acabam em pelo menos 8 postos de saúde de São Paulo e atrasa diagnóstico de casos suspeitos", publicada em 24 de janeiro de 2022, que também trouxe informações sobre o desabastecimento em outras três cidades da região metropolitana.

Mas diferente de outros textos que escrevi, nesse caso, a matéria foi pensada e escrita em grupo. Um trabalho que chamamos na Agência Mural de pauta coletiva, e que nos permite ativar a rede de correspondentes em vários lugares para colaborar em uma reportagem "de fôlego".

A apuração e a escrita em conjunto nos ajudam a agilizar processos. Com outros cinco jornalistas, de diferentes bairros e regiões da Grande São Paulo, esse levantamento alcançou 30 unidades de saúde.

Juntos, investigamos os estoques nas periferias das quatro zonas da capital e em nove bairros de Guarulhos, Poá e Mogi das Cruzes, além de conversarmos com quem foi impactado pela situação e teve o diagnóstico comprometido. Tudo isso com a pressa de reunir o máximo de informações possíveis e evitar que mais pessoas precisassem peregrinar por unidades desabastecidas.

Foi assim que percebemos que alguns postos da cidade de Poá, por exemplo, viviam o desabastecimento de testes de antígeno desde 2021 e que, na capital, a falta do exame levou unidades de saúde da zona leste a restringirem a testagem, deixando de fora pacientes com sintomas leves. Problemas que a princípio poderiam parecer pontuais, nosso olhar em rede demonstrou serem mais graves.

Ao longo de quatro dias, as ligações e visitas aos postos apontaram que o desabastecimento não acontecia apenas na zona sul da capital. No fim, a reportagem, que só foi possível pelo trabalho em grupo, trouxe uma surpresa em relação ao que vinha sendo noticiado até então.

No dia 17 de janeiro, a prefeitura da capital já havia informado que a cidade só tinha estoques de testes rápidos para mais 15 dias. Nossa reportagem, publicada sete dias depois, mostrou que a escassez do exame tinha virado realidade antes disso.

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