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Os bastidores do jornalismo nas periferias de SP

O voto jovem para uma política velha

Os motivos que desanimam jovens de votar em 2022

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Cleberson Santos
São Paulo | Agência Mural

Faz 12 anos que votei pela primeira vez, nas eleições de 2010. Na época, tinha 17, meu voto era facultativo, mas escolhi participar daquele momento. Também foi o ano do primeiro contato com o jornalismo, quando participava do grupo de apoio do extinto Folhateen, um caderno semanal para adolescentes da Folha de S. Paulo.

Lembro de ter ido à Redação do jornal para assistir ao debate presidencial, de ter conversado sobre a possível influência de professores na escolha de candidatos, e sobre o velho debate entre escolher quem gosta mais no primeiro turno e deixar o "voto útil" para o segundo. Marina Silva estava em alta entre os jovens naquele ano.

Em 2022 me vejo do outro lado, entrevistando jovens das periferias que podem escolher votar pela primeira vez.

Não me recordo de haver tido uma mobilização pelo voto dos adolescentes em 2010 como o que estamos vendo agora, o cenário político era bem diferente. Não havia o clima de hostilidade e de polarização que domina nosso contexto atual.

Por isso resolvemos ir escutar, nesta reportagem, os cidadãos e cidadãs que estão sob o alvo desta campanha para saber o que pensam e o que vão decidir sobre participar ou não destas eleições.

Ilustração de jovem sentado com uma nuvem pairando sobre a cabeça
Adolescentes explicam por que não tiraram título de eleitor - Magno Borges/Agência Mural

Entre as falas, houve desde o sentimento de que não há políticos que chamem a atenção dos recém-eleitores, mas também uma sensação de que muitos não querem se meter nessa disputa de opiniões que dominou o país nos últimos anos. E aproveitam que têm essa escolha de não votar. Mas dá para condenar essa escolha?

Ser apresentado à política de uma forma tão caótica como está agora não é motivador, é meio que compreensível que eles não queiram fazer parte dessa polaridade.

Mas também pode ser um sintoma de que o projeto antidemocrático, de desestabilizar a confiança nesse modelo, funcionou.

Outro ponto interessante das conversas é que a maioria deles admitiu, inclusive entre os que vão votar, que não se interessam tanto por política, porque não entendem como ela "funciona".

Isso confirma a sensação de falha (ou inexistência) da educação política no Brasil, tanto por parte das escolas quanto pela imprensa. Nós noticiamos as brigas entre os poderes, mas não explicamos, de forma interessante, como as instituições deveriam funcionar, como os cidadãos podem ter acesso aos mandatos (afinal, foram eles que escolheram os representantes) ou como acompanhar os nomeados pela política mais de perto, sem esperar apenas a hora do voto para pensar nisso. Nós temos nossa parcela de culpa e de responsabilidade.

Contudo, concordo com a Larissa Dionisio, do Instituto Update, entrevistada para a reportagem. Ela diz que um possível desinteresse eleitoral não significa que esses jovens, mesmo aqueles que não querem votar, sejam despolitizados.

Principalmente nas periferias, há muitos jovens engajados em coletivos e projetos culturais, muitos deles pautados em transformações por meio das questões identitárias, educacionais ou territoriais. Mas estão longe da política institucional.

Fica uma sensação de que há neles um desejo de mudança, de reivindicar acesso aos direitos, mas que falta acreditar na representatividade que se espera de um líder que dialogue com esses adolescentes, que olhe no longo prazo para seus futuros.

Fica difícil escolher seu representante se você não se enxerga neles. Ou que eles não te enxerguem.

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