Aconteceu nesta terça-feira (16), na frente do Theatro Municipal, em São Paulo, uma manifestação reunindo cerca de três mil pessoas contra a aprovação pelo Congresso do repasse de 5% do orçamento do Sistema S para a Embratur (Agência Brasileira de Promoção Internacional do Turismo).
Entre as nove entidades que integram o Sistema S e que estiveram representadas no ato por seus funcionários estão o Sesc (Serviço Social do Comércio), o Senac (Serviço Nacional de Aprendizagem do Comércio), Sesi (Serviço Social da Indústria), Senai (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial), Senar (Serviço Nacional de Aprendizagem Rural), Sescoop (Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo), Senat (Serviço Social de Aprendizagem do Transporte), Sest (Serviço Social de Transporte) e o Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas).
Leia mais sobre a celeuma do repasse nas matéria publicadas na Folha em https://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2023/05/funcionarios-do-sesc-e-do-senac-protestam-contra-repasse-para-embratur.shtml e em https://www1.folha.uol.com.br/mercado/2023/05/repasse-de-recursos-para-embratur-vira-alvo-de-campanha-do-sistema-s.shtml.
Entre os manifestantes contra o repasse havia, além dos funcionários do Sistema S, artistas, músicos, produtores, professores, cantores, cantoras e instrumentistas. Alguns foram entrevistados por este repórter que cobriu a manifestação (veja vídeo no final do texto).
Leia, a seguir, o que os manifestantes disseram ao blog.
A cantora paulistana Ná Ozzeti, 64, abarca mais de 40 anos de carreira e perdeu a conta de quantos shows fez no Sesc. Ná falou ao blog porque estava protestando contra o repasse na manifestação: "Porque eu acho muito importante manter o Sesc como ele está. Sou da área da cultura, o Sesc já é notável se você considerar apenas a parte cultural, né? É uma coisa que eu vejo, o resultado, há mais de 40 anos, principalmente em São Paulo. É uma revolução o que o Danilo Miranda [diretor do Sesc no estado de São Paulo] fez aqui. Se não bastasse isso, o Sesc e o Senac têm um papel muito importante com idosos, tem o projeto Mesa Brasil, com distribuição de alimento com qualidade...É um trabalho que é fundamental, de assistência mesmo. Acho que não faz o menor sentido você tirar dinheiro de algo que é um exemplo do que dá certo, não é? Porque é uma entidade forte e muito séria. Eu trabalho às vezes com o Sesc e a gente conhece o rigor que eles têm. Então é realmente uma entidade séria e que faz um trabalho brilhante há muitos anos. Um trabalho consolidado. Para que mexer nisso, né? O turismo também é importante, mas deve haver outras fontes de dinheiro".
A cantora Anaí Rosa, nascida há 54 anos em Ribeira, na divisa com o Paraná, há muito mora em São Paulo, onde passou grande parte de seus 32 anos de carreira. A artista já realizou vários shows no Sesc, entidade à qual disse ser muito grata e por essa razão juntou-se aos manifestantes. "O Sesc é incentivador da cultura e da nossa arte em geral, como a música, o teatro e a dança. Todo artista é grato ao Sesc. Sou contra esse repasse porque acho que esse dinheiro deve continuar a ser investido na cultura para fazer a arte chegar ao povo. Fazer uma arte mais acessível a todos, como o Sesc faz."
O produtor Roberto Bruzadin, o Bob, que nasceu há 82 anos no bairro da Mooca, em São Paulo, é o homem que há 32 anos comanda a produção da suingada banda Mantiqueira. O produtor não sabe dizer quantas vezes a banda se apresentou no Sesc. "O Sesc é a nossa casa. A Mantiqueira se tornou conhecida muito pelo fato do Sesc apoiar a banda em seus diversos espaços. O Sesc deu muita força para a banda e para muitos artistas brasileiros. Sou totalmente contrário ao repasse de 5% porque no que está bom não se mexe. Time que está ganhando tem que continuar ganhando. O Sesc leva cultura para todo o estado, além da capital, promovendo show, recreação, cultura e isso não pode acabar, tem que continuar."
Luiz Bueno, 72, violonista integrante do Duofel ao lado do também violonista Fernando Melo também estava protestando contra o repasse. Por quê? "Cara, é o seguinte: eu era moleque e queria ter uma carreira musical. E juro para você que minha carreira musical só aconteceu porque o Sesc abraçou uma música que não está na mídia. E abraça qualquer expressão artística que represente um momento. Não tem uma escolha política e nem de modismo. Então Sesc na cabeça, Sesc no pé e Sesc no peito."
O multi-instrumentista santista Arismar do Espírito Santo, 66, também estava no protesto. E justificou sua presença dizendo que a cultura é um dos poucos setores no mundo que movimenta e retorna para o povo em números, em dinheiro, em volume, em trabalho, em prazer, em amor e compreensão. "O turismo tem outro viés para usar o dinheiro. A cultura necessita dessa alavanca. E o Sesc e Senac têm papel fundamental nessa mola mestra que é o mostrar. Mostra, lota a casa, paga, paga, faz dinheiro, faz dinheiro paga funcionários. Fomenta. Fomenta a cultura, a arte, roteiro, disco, pintura, ensaio, corda...Vai vendo o que tem de produto. A gente não é subproduto. A gente é produto de uma coisa e esse número, o 5% já está colocado numa coisa, não convém tirar de uma estrutura que já existe e que é um sucesso de bilheteria essa estrutura. Você não pode mexer nisso, o Sesc e o Senac, se você olhar , são sucesso de bilheteria."
Assista a seguir ao vídeo gravado, com exclusividade pelo Música em Letras, no qual as pessoas protestam, na tarde desta terça-feira (16), contra o repasse de 5% do orçamento do Sistema S para a Embratur, na frente do Theatro Municipal, em São Paulo.
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