Na Corrida

Pé na estrada, mesmo quando não há estrada

Na Corrida - Rodrigo Flores
Rodrigo Flores
Descrição de chapéu atletismo

Tênis de corrida: quer pagar quanto?

Tênis com placa de carbono vira objeto de desejo dos corredores amadores

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Rodrigo Flores
São Paulo (SP)

Corrida de rua era para ser barato. Atividade praticada pela humanidade desde tempos imemoriais, o ato de correr não requer qualquer tipo de equipamento. O genial maratonista etíope Abebe Bikila ganhou a medalha de ouro nas Olimpíadas de Roma correndo descalço. Isso em 1960. Se você parar para pensar, nem faz tanto tempo assim.

Corrida de rua era para ser barato, mas não é. O comportamento natural do atleta é buscar um desempenho melhor, ter mais detalhes sobre a sua performance, aumentar o seu conforto, prevenir lesões ou simplesmente ter um equipamento de ponta. E dá-lhe comprar tênis, instalar app, atualizar o guarda-roupa e usar relógio com GPS. E tudo isso custa dinheiro. Muito. Dinheiro.

A pergunta que muitos corredores amadores se fazem hoje é se vale a pena investir no chamado "tênis de placa". Para os não-iniciados, eu explico. Em 2017, a Nike lançou o Vaporfly, um tênis de corrida com uma placa de carbono na entressola. A adoção pelos atletas de elite foi imediata, e outros fabricantes passaram a oferecer produtos com essa tecnologia. Recordes começaram a cair. O impacto nos tempos de prova foi tamanho que a World Athletics, entidade que regula as competições de atletismo, criou uma comissão só para decidir se o uso de tênis com placa de carbono configurava algum tipo de "doping mecânico". Como a tecnologia existia desde os anos 1990 e só foi aperfeiçoada, o equipamento foi liberado.

O que faz esses tênis serem tão especiais? Além de leves, eles são mais responsivos do que os tradicionais modelos com gel ou espuma EVA. A energia gerada pela pressão do pé no chão durante a corrida é devolvida para o corredor, que tem a sensação de ser empurrado para cima. A Asics, uma das principais fabricantes mundiais de tênis de corrida, estima que os ganhos de performance superem 2% em seus modelos de ponta. Alguns estudos sugerem que a energia economizada em cada passo possa chegar a 4%. Pode parecer pouco, mas em uma maratona, quando o corredor precisa percorrer 42 km, 2% de economia significa quase 1 km a menos de desgaste. É muita coisa.

Tênis Metaspeed Edge+, da Asics, com placa de carbono na entressola
Tênis Metaspeed Edge+, da Asics, com placa de carbono na entressola - Divulgação

O fisioterapeuta Daniel Kuriu já correu múltiplas maratonas e faz parte do grupo de atletas amadores que adotou o tênis com placa de carbono. "É uma revolução. A sensação é que o tênis absorve boa parte do impacto e te joga para a frente, preservando a musculatura e as articulações", explica.

Se eles são tão bons, por que os tênis de placa não estão nos pés de todos os corredores? Há alguns bons motivos para desacelerar a adoção da tecnologia. A primeira delas é que o tênis é um equipamento de performance, e só. "Eu vejo o tênis de placa como eu vejo uma chuteira de futebol. Acabou o jogo, você tira e coloca outro calçado. Ambos são feitos para o uso específico durante a prática esportiva, e não para passear no shopping". Ainda que haja modelos mais confortáveis, a prioridade é deixar o tênis mais leve possível – o que pode significar redução do conforto e da estabilidade do calçado em atividades do dia a dia.

Outro argumento que ouvi em conversas com treinadores e corredores é de que a adaptação pode não ser tão simples. "O tênis de placa é um equipamento voltado para performance, e nem sempre é o mais adequado para quem é amador, só se exercita eventualmente e não tem a mecânica correta de corrida", afirma Gustavo Guedes, professor de educação física e treinador da assessoria Corrida Perfeita, de Brasília. Apesar de não estimular, Guedes afirma que 90% dos atletas que acompanha já fizeram a migração para o tênis de placa.

Lembra que comecei o texto falando que correr é caro? Pois é. Esse talvez seja o fator que mais pese na hora de decidir comprar ou não um tênis de placa. A esmagadora maioria dos modelos custa quatro dígitos. O ZoomX Vaporfly Next% 2 sai por R$ 2.099,99 no site da Nike. O Metaspeed Edge+, lançamento da Asics, custa R$ 1.899,99 (preços em agosto de 2022). E aí, cabe ao corredor conhecer não só a sua passada, o seu ritmo e o seu tempo nas corrida. É preciso saber bem o tamanho da sua conta bancária.

E você? Já corre com tênis de placa? Conte sua experiência nos comentário

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