O sol encaminhava-se para tocar o horizonte no mar do Caribe. Do alto da muralha que cerca a cidade antiga de Cartagena, na Colômbia, o calor abafado do dia dá lugar ao frescor que a brisa do fim de tarde traz. Estamos no Café del Mar, a balada-bar mais cobiçada da cidade. Do lado de fora, turistas esperam sua vez para entrar enquanto são assediados por vendedores ambulantes. Para quem já está dentro, copos cheios com limonadas de coco circulam em um ambiente tomado pela música eletrônica. Pufes e sofás completam o pacote chique-descontraído.

Esse cenário foi um dos escolhidos pela Asics para o lançamento do Nimbus 25 na América Latina. O tênis, um clássico entre os corredores brasileiros, é a principal aposta da fabricante japonesa para 2023.

O lançamento com toda a pompa e circunstância se justifica. O Nimbus é a ponta de lança de um movimento que a Asics intitula como "A Grande Virada". A fabricante japonesa de material esportivo, que revolucionou a indústria de calçados nos anos 80 com a introdução de uma camada de gel na entressola, quer voltar a ocupar uma posição de liderança nos corações e mentes dos corredores mundo afora.

Grande virada

No mais recente relatório anual para investidores, divulgado em agosto de 2022, a Asics apontou publicamente sua insatisfação com alguns dos carros-chefe da empresa. "Na Ekiden de Ano Novo e na Hakone Ekiden (provas de revezamento muito populares no Japão que reúnem trabalhadores corporativos e estudantes) em janeiro de 2021, tivemos a experiência frustrante de ver que nenhum atleta competia com tênis da Asics", informa o documento. Soma-se a isso uma preocupação crescente com as margens e com a lucratividade do negócio, que levaram a medidas de saneamento como, por exemplo, a orientação para fechar lojas mundo afora que dão prejuízo.

A solução encontrada pela Asics foi investir em um dos nichos mais rentáveis desse mercado: os tênis de corrida. A Asics lançou o projeto Chojo, um centro de treinamentos no Quênia que tem como objetivo recapturar a posição de liderança entre atletas de ponta. E também apostou em tecnologia. Parte fundamental desse movimento é a linha Metaspeed, um tênis com placa de carbono desenvolvido justamente para atender às necessidades dos atletas de elite.

Nas principais maratonas do mundo – as chamadas Majors – a virada ainda não aconteceu, a despeito dos elogios que o Metaspeed recebeu de atletas e da imprensa especializada. Nas mais recentes maratonas de Chicago, Tóquio, Nova York, Londres, Berlim e Boston, a Asics conseguiu subir ao pódio apenas uma vez. O queniano John Korir foi terceiro colocado em Chicago calçando um Metaspeed Sky. Enquanto isso, Adidas e Nike acumularam vitórias e monopolizaram as conquistas, com pontuais aparições de concorrentes.

Conforto em primeiro lugar

E por que a grande aposta do ano está no Nimbus 25, um tênis que não faz parte da linha de performance da Asics? Bem, há algumas explicações. A primeira é o enorme recall do modelo, que equipa atletas há um quarto de século. A segunda, e talvez principal delas, é que o Nimbus atende ao maior desejo dos compradores de tênis de corrida: o conforto. Essa é a palavra central usada pela Asics em todo o desenvolvimento do produto, e o Nimbus carrega há anos a aura de ser um calçado macio para o corredor.

Segundo levantamento do site especializado Running Shoes Guru, o conforto é o principal fator de decisão no momento da compra de um novo par de tênis. 38% dos respondentes disseram que optam pelo conforto sobre qualquer outra característica. Um em cada quatro respondentes alegam que o mais importante é seu histórico pessoal com a marca. 17% dizem ser guiados por avaliações e indicações. Preço foi citado por apenas 4% dos respondentes como o principal motivo para efetuar uma compra.

Enquete semelhante feita pelo Tênis Certo com mais de 2 mil brasileiros vai pelo mesmo caminho. Conforto é a característica mais importante no momento de decisão de compra para 57% dos respondentes. Recomendação de influenciadores e amigos aparecem com 21%, enquanto preço teve 11% das respostas.

Tecnologia da maciez

Afinal, o Nimbus é um tênis de corrida muito confortável, ou um tênis confortável que serve para correr? A pergunta, direcionada para os líderes de desenvolvimento da Asics, não teve resposta imediata. Depois de algum debate, a conclusão foi de que o conforto vem em primeiro lugar. "O Nimbus é e sempre será um tênis de corrida. Mas tudo o que fizemos nessa nova versão foi visando o maior conforto para o usuário".

"Quando alguém perguntar qual o tênis ideal para quem está começando, quero que o Nimbus 25 seja a resposta", afirmou Flávio Higa, gerente de desenvolvimento da Asics para a América Latina.

As mudanças em relação à versão anterior são significativas. Em primeiro lugar, o composto em gel utilizado para garantir maior absorção de impacto foi substituído por um novo produto, batizado de PureGEL, que garante aterrissagens mais leves, segundo o fabricante.

A espuma do solado também mudou. Ficou 20% maior, sem elevar o peso do tênis – algo possível por ter menor densidade que a versão anterior. Por ser menos concentrada, essa espuma consegue ser mais elástica, e essa capacidade de compressão ajuda a absorver o impacto.

Por fim, a Asics fez ajustes na malha, aumentando a respirabilidade do calçado.

Essa evolução tem um preço, e ele não é barato. Em março de 2021, era possível comprar um Nimbus por R$ 999. No ano seguinte, pulou para R$ 1099. Em 2023, o modelo novo sai por R$ 1199.

Por conta do lançamento do Nimbus, participei a convite da Asics da prova de 10 km da Media Maraton del Mar. Era a oportunidade de avaliar em primeira mão o tênis em ação em uma prova de rua. Depois disso, rodei pelo menos outros 50 km com o modelo. Os avanços técnicos se fazem sentir na prática. O tênis é leve, muito macio, ideal para corredores iniciantes e intermediários, que fazem menos treinos durante a semana e percorrem distâncias mais modestas. Para provas longas tenho minhas dúvidas, justamente pelo alto amortecimento. Minha aposta é de que será mais fácil ver o Nimbus 25 em parques no final de semana e no shopping do que em maratonas e ultramaratonas.

Como assim, shopping?

Para o brasileiro, um tênis de corrida raramente é só um tênis de corrida. "Um par de tênis é um gasto importante dentro do orçamento médio do brasileiro. Além de servir para a corrida, o comprador espera que ele também possa usar esse tênis em atividades sociais", diz Eduardo Suzuki, sócio e fundador da Tênis Certo, uma das maiores plataformas de conteúdo e de venda de calçados esportivos na internet.

A aposta da Asics no uso casual (ou seja, fora das pistas) do Nimbus 25 é evidente. O modelo foi lançado com 15 diferentes opções de cores, com o objetivo de agradar dos clientes mais conservadores aos mais extravagantes. E o marketing centrado no conforto – e não em performance – reforçam a percepção de que o calçado foi pensado para ter uso nas corridas, e uma sobrevida fora delas.

Segundo o fabricante, o tênis foi desenvolvido para durar entre 600km a 800km no pé de um corredor, podendo chegar bem aos 1000 km. Mas, para quem pretende usar o tênis para passear, fica o alerta: a vida útil cai a cada passo dado, seja ele na pista de corrida, seja ele no shopping.

A Asics promete mais novidades para o segundo semestre como parte do movimento da Grande Virada. A empresa sai na frente no início de ano com o Nimbus 25. Mas é só a largada de uma corrida de longa duração entre os fabricantes de material esportivo.

O jornalista viajou para Cartagena a convite da Asics.