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Espanholices, maravilhas do ordinário, brotos de brócolis

Normalitas - Susana Bragatto
Susana Bragatto

Vinicius, um de muitos

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Sim, está todo mundo falando do tema -- aí e aqui na Espanha.

Os atos racistas contra o brasileiro Vinicius Junior, jogador do Real Madrid, um dos maiores do país, estão nas manchetes de todo o país.

Embora as autoridades espanholas tenham rapidamente vindo a público condenar o caso, a ausência de medidas drásticas, rápidas e claras elevou o incidente a um impasse diplomático entre Brasil e Espanha, país onde Vinicius vive desde 2018.

Nesta terça-feira, a polícia espanhola deteve sete suspeitos, que estão sendo investigados por crimes de ódio.

Vinicius Junior reagiu contra torcedores após ofensas racistas no estádio Mestalla, em Valencia - Pablo Morano/Reuters

Na Espanha, a lei contra a violência, racismo, xenofobia e intolerância no esporte foi aprovada em 2007, junto com uma série de medidas para o combate ao racismo, punição e educação coletiva.

Segundo a lei, qualquer gesto, cântico, símbolo, insulto e ameaça física ou verbal pode ser considerado ato racista, xenófobo ou intolerante passível de sanção.

As punições podem ir da expulsão dos responsáveis do local do jogo, com medidas cautelares de afastamento dos estádios que podem variar de 1 mês a 5 anos (é pouco!!! todo tempo é pouco), até a própria suspensão da partida, retratação pública, prisão e multas que podem variar de 3 mil a 60 mil euros para "infrações graves" até 650 mil euros para as "muito graves".

Segundo a gravidade, um recinto esportivo pode também ser fechado temporariamente por até 2 anos.

***

Vinicius é um caso lamentável e mediático, mas infelizmente está longe de ser o primeiro na Espanha.

Nos últimos anos, com exceção da pandemia, a média de denúncias racistas vinculadas ao esporte girou em torno de 20 a 30 casos anuais.

Um dos casos recentes mais notórios é o do hispano-ganês Iñaki Williams, do Atlético de Bilbao.

Em janeiro de 2020, durante uma partida entre o Atlético e o Espanyol no estádio de Cornellà-El Prat, em Barcelona, um punhado de imbecis (que se diga com todas as letras e, de novo, é pouco), protegidos por seu anonimato na arquibancada, começaram a soltar insultos racistas, imitando o som de macacos.

A partida não foi suspensa, apesar de Iker Muniaín, técnico do Atlético, ter se queixado ao árbitro.

Quase três anos mais tarde, no fim de 2022, a Fiscalía de Delitos de Ódio de Barcelona finalmente pediu 2 anos de prisão a um espanhol torcedor do Espanyol. Na conta, também botou 5.475 euros de multa e afastamento dos estádios por 5 anos.

É POUCO.

Além desse cara, o único até agora a ser condenado, outros estavam junto nos apupos racistas. Diante de um público de quase 30 mil pessoas e 14809917098 câmeras de tevê.

Como escreveu a Fiscalía no texto de acusação, é "público e notório" que a imitação de macacos como forma de acossamento foi repetida incontáveis vezes por torcedores de muitos países "para ofender publicamente os futebolistas de cor de pele negra durante uma partida de futebol".

E quem se lembra quando Dani Alves, então no Barcelona, enfrentou os insultos racistas do público (de novo o macaco, desta vez acompanhado de outra prática muito comum nos estádios: lançamento de bananas ao campo) pegando a banana e comendo, enquanto encarava a torcida, desafiante?

De novo, nenhuma punição, nenhuma suspensão, nenhuma atitude por parte do árbitro ou de quem quer que seja. Como se não fosse nada.

Que a casa caia. É POUCO.

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