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Alma Preta lança manual de Redação antirracista

Objetivo é contribuir para uma cobertura jornalística que descentralize narrativas

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São Paulo

A Alma Preta lançou nesta quarta-feira (9) um manual de Redação antirracista. A publicação condensa a visão editorial da agência de notícias com o objetivo de auxiliar jornalistas e comunicadores na cobertura da temática racial no Brasil.

O "Manual de Redação: o jornalismo antirracista a partir da experiência da Alma Preta" foi lançado durante evento na sede do Sindicato das Empresas de Asseio e Conservação no Estado de São Paulo.

Foto mostra capa do manual; livro é preto com 'alma preta' escrito em letras vermelho sangue grandes e 'manual de redação' escrito em branco
Alma Preta lança Manual de redação antirracista - Divulgação

"A gente tentou produzir um material olhando para nós, enquanto sujeitos negros, mas sob uma perspectiva universal. Um jornalista que quiser trabalhar para qualquer outro veículo ou canal, que tenha ou não um manual de Redação, pode olhar para o da Alma Preta e usá-lo como base", afirma o jornalista e editor-chefe da agência de notícias, Pedro Borges.

Ele conta que sentia falta de um documento que pudesse guiar a produção jornalística dos canais de imprensa negra. "A gente tem como uma grande referência o Manual de Redação Folha, tem o do Estadão, e foram criados minimanuais sobre como cobrir determinados temas. Quisemos fazer um combinado das duas coisas."

A publicação traz informações sobre critérios de noticiabilidade, verbetes e instruções sobre como cobrir temas que afetam a população negra.

"Óbvio que tudo isso a partir do nosso olhar. Todo manual de Redação carrega a perspectiva e a visão do canal de imprensa que o está produzindo, e naturalmente falar de Alma Preta é falar a partir de uma perspectiva antirracista", diz.

Um exemplo é a cobertura de segurança pública. Segundo Borges, O Outro Lado —princípio editorial que prevê a escuta de todos os envolvidos em determinado acontecimento— nem sempre é suficiente para equilibrar narrativas.

"Ouvir os dois lados é uma coisa que jornalismo faz, mas muitas vezes as versões de um mesmo fato são incompatíveis. Uma família [que sofreu com uma chacina] pode dar uma versão, e a polícia dar outra completamente diferente", afirma.

"Em uma equipe de jornalistas comprometidos com o antirracismo, é importante que a gente priorize a versão desses familiares. A imprensa mais corporativa tem como tendência dar como prioridade a versão oficial. O jornalismo vai dizer que isso é objetividade, mas a objetividade já está posta na medida em que você checa os dois lados e faz a apuração."

"Nós, enquanto imprensa negra, deixamos isso explícito no nosso manual. Até porque não existe pena de morte no Brasil. Mesmo que uma pessoa estivesse envolvida com o crime organizado, ela não teria que ser julgada pelo policial naquele momento. Cabe a ele prender", afirma.

Borges destaca que a produção do manual vem de um trabalho coletivo, desenvolvido ao longo de três anos a partir de pesquisas e entrevistas feitas por uma equipe formada por pesquisadores, jornalistas e estudantes de jornalismo e história. O grupo foi coordenado pela pesquisadora e diretora-geral do Arquivo Nacional, Ana Flávia Magalhães Pinto, e pelo professor de jornalismo da Unesp Juarez Xavier.

"O manual não é algo que pode ser lido apenas por entendidos de jornalismo", afirmou Magalhães no evento de lançamento. "É um documento que interessa a toda pessoa que demanda uma comunicação com vistas à promoção da cidadania e do direito à informação."

O projeto teve apoio do Instituto do Ibirapitanga, organização dedicada à equidade racial e a sistemas alimentares, e incentivo via Emenda Parlamentar da bancada feminista do PSOL. O recurso foi destinado à diagramação e design do manual, além da impressão de duas mil cópias para serem distribuídas.

Interessados em receber o manual podem entrar em contato pelo email projetos@almapreta.com.br. Em breve, o material poderá ser acessado em formato PDF.

Durante o lançamento, a Alma Preta homenageou Oswaldo de Camargo, 87, escritor e crítico brasileiro. Considerado um grande poeta e referência da literatura negra, Oswaldo participou de cadernos históricos da imprensa negra brasileira.

"Vejo esse manual como um complemento dos sonhos de muita gente como eu. Muitos partiram, mas eu tenho certeza que eles estão presentes e aplaudindo o que está havendo aqui", disse Camargo ao subir no palco.

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