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Jornalistas brancos demitidos processam grande editora nos EUA

Ação coletiva alega que políticas de diversidade corporativa prejudicam quem não pertence a grupos minorizados

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São Paulo

Em maio de 2020, Steve Bradley, 56, foi demitido do jornal Democrat and Chronicle, de Nova York, após 20 anos de casa, devido a cortes de custos em decorrência da pandemia. Dois anos depois, o jornalista recebeu uma ligação do advogado trabalhista J. Nelson Thomas, dizendo que ele foi demitido porque é branco.

Junto com outros quatro autores, Bradley entrou com uma ação coletiva contra a Gannett, maior editora de jornais do país, alegando que ela "discriminou não-minorias".

Protocolada em agosto deste ano em um tribunal da Virgínia, a ação alega que a empresa demitiu funcionários brancos e os substituiu por candidatos pertencentes a grupos minoritários menos qualificados.

Edifício Democrat and Chronicle, no Midtown Plaza, em Rochester, Nova York
Edifício Democrat and Chronicle, no Midtown Plaza, em Rochester, Nova York - Wikimedia

Esse é um dos primeiros casos que questionam a legalidade de práticas de diversidade corporativa após a decisão da Suprema Corte que derrubou, em junho, as ações afirmativas nas admissões universitárias nos Estados Unidos.

A decisão desencadeou uma onda de processos voltados às questões raciais no ambiente de trabalho, incluindo alegações de que os esforços corporativos para aumentar a diversidade prejudicaram funcionários brancos.

Em comunicado ao The Washington Post, a empresa afirmou que busca recrutar e reter os indivíduos mais qualificados para todos os cargos e que defende vigorosamente sua prática de garantir oportunidades iguais para todos.

Para especialistas, ações afirmativas, bolsas de estudo e programas de subsídios voltados a grupos minoritários podem enfrentar desafios legais no país.

Leon Prieto, professor de administração na Clayton State University, diz que essas alegações não reconhecem o contexto histórico da discriminação no mercado de trabalho. "Muitas culturas corporativas têm raízes em preconceitos que favorecem os americanos de ascendência europeia em relação aos outros. Está documentado."

Após o assassinato de George Floyd pela polícia em 25 de maio de 2020, a Gannet se comprometeu a "alcançar a paridade racial e de gênero com a diversidade da nação". Uma das metas foi aumentar em 30% o número de pessoas negras em cargos de liderança até 2025.

A empresa ainda não divulgou seu relatório de inclusão de 2023, mas os dados mais recentes mostram que cerca de 70% dos funcionários da Gannett Media são brancos e 57% são homens. Funcionários negros representam cerca de 11,5%. Quase 8% são hispânicos, cerca de 3% são asiáticos e menos de 1% são indígenas.

Em 2022, a empresa anunciou progresso em relação às suas metas de diversidade, afirmando que mais de 16% dos funcionários no nível de diretor ou superior são negros, um aumento de 2,3% em relação ao ano anterior.

Para os autores da ação contra a corporação, tal avanço teve um custo para os funcionários brancos. Segundo eles, a administração orientou os líderes a excluírem candidatos brancos, pois "priorizava a raça em detrimento do desempenho no trabalho e de outras qualificações profissionais". Eles pedem que a Gannett coloque fim à política de 2020 e lhes conceda os "salários perdidos", benefícios e outros danos monetários.

O advogado disse que sentiu necessidade de assumir o caso "depois de ouvir como a Gannett tentou atingir as metas de diversidade". Isso porque, embora outro funcionário da equipe de esportes tenha sido demitido junto com Bradley, "nenhum membro não pertencente a minorias da editoria foi demitido durante esse período", o que demonstraria a discriminação contra os funcionários brancos.

Bradley foi demitido antes que a empresa estabelecesse suas metas de diversidade e da morte de Floyd, mas acredita que esses objetivos lhe custaram a chance de retornar a uma Redação.

No início de 2021, o jornalista se candidatou a uma vaga de editor-executivo para supervisionar as redações da empresa em Nova York. Após entrevistas, foi informado que era um dos finalistas, juntamente com outro candidato branco. Um mês depois, soube que a vaga foi ocupada por Sheila Rayam, ex-repórter e editora de engajamento comunitário, a primeira pessoa negra a ocupar o cargo.

Para Gannet, a decisão da empresa não levou em consideração as habilidades profissionais da funcionária, e a escolha por uma mulher negra após décadas de chefia masculina e branca foi discriminatória para ele e o outro candidato. "Se o governo ou outra empresa estivesse fazendo o que eles estavam fazendo, eles teriam seu repórter investigativo ligando para eles", disse.

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