"A prisão esmaga você lentamente por dentro." Essa foi uma das declarações dadas pelo jornalista Fahad Shah, da região indiana de Caxemira, após ter passado 21 meses atrás das grades por acusações de terrorismo e publicação de conteúdo antinacional.
Fundador e editor do jornal local Kashmir Walla, ele foi preso em fevereiro de 2022 por causa de sua atuação no veículo independente. Desde que o BJP (Bharatiya Janata Party, ou partido do povo indiano) —sigla à qual o primeiro-ministro Narendra Modi pertence— colocou Caxemira sob o controle do governo nacional, veículos sofrem com intimidações como o corte de anúncios nos jornais.
A região da Caxemira é disputada por Índia e Paquistão desde que a Grã-Bretanha concedeu independência à Índia, em 1947. Reivindicando a província como sua, os dois países asiáticos protagonizaram duas guerras, em 1947 e 1965, e entraram em conflito em 1999. Atualmente, ambos administram diferentes partes da Caxemira.
O Kashmir Walla, que investigava violações de direitos humanos na região, seguiu funcionando mesmo após a prisão de Shah, mas fechou as portas em agosto, quando autoridades bloquearam o site e encerraram as atividades da publicação sem aviso prévio.
Em entrevista ao The Guardian, o jornalista de 34 anos contou que enfrentou meses de interrogatório e chegou a passar 20 dias em solitária, em uma cela de 1,8 m por 1,8 m, onde começou a ter alucinações. "Foi o pior período de todo esse tempo", disse.
Ele foi libertado após o pagamento de uma fiança, mas voltou para a cadeia assim que novas acusações surgiram. Apenas no final de novembro deste ano, os tribunais consideraram que havia provas insuficientes para enquadrá-lo como terrorista e lhe concederam a liberdade.
"Você é afetado mental e fisicamente até chegar a um ponto de estar quebrado e fazer as pazes com a nova personalidade que você adquire na prisão", afirmou Shah ao veículo britânico.
O jornalista relatou ainda que sua vivência na cadeia melhorou um pouco depois que ele foi transferido para a cidade de Jammu, em junho do ano passado, onde o acesso a livros e jornais era permitido. Shah também percebeu que era conhecido por muitos presos por causa de seu trabalho ou por já tê-los entrevistado como repórter.
De volta para casa, ele segue tentando se readaptar à vida normal. "Eu havia feito planos sobre o que faria depois de ser libertado, que comida eu comeria, mas tudo ficou sem importância de repente. Minha família está por perto e meus colegas têm me visitado e demonstrado carinho. Parece que eles estavam esperando por este dia", acrescentou.
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