"Fui pro jogo, as minhas costas estavam travadas, eu não conseguia me mexer direito, porque eu tenho um problema nas costas desde a pancada que eu sofri na Copa do Mundo. Mas você vai pro pau, não tem nem o que fazer."

Ao assistir a "Neymar: O Caos Perfeito", minissérie em três episódios da Netflix que relata a carreira do craque, a frase que mais me marcou foi essa, dita pelo atacante ao comentar a partida em que o Brasil foi eliminado pela Bélgica da Copa do Mundo de 2018, na Rússia.

Nesse Mundial, o camisa 10 teve atuação aquém do esperado e sua fama de "cai-cai" foi potencializada.

Fiquei surpreso com a declaração de Neymar, pois considerava que as costas não eram, fazia tempo, um problema para ele.

A Copa do Mundo a que ele se refere ao mencionar a pancada é a de 2014, no Brasil, quando o colombiano Zúñiga o atingiu por trás na partida das quartas de final, no estádio Castelão, em Fortaleza.

É triste lembrar dessa jogada, que mostra o melhor jogador da seleção brasileira esparramado no gramado, gritando de dor, sem condição de se mexer.

A carga por trás de Zúñiga, com o joelho, causou a fratura da terceira vértebra lombar de Neymar.

O astro da seleção ficava ali fora da sequência da Copa –o Brasil perdeu na semifinal, por 7 a 1, da Alemanha, e depois de 3 a 0 da Holanda na disputa do terceiro lugar– e por muito pouco não ficou paraplégico. Foi salvo por dois centímetros.

Apesar do enorme susto, Neymar não ficou muito tempo afastado do futebol, na comparação com outras lesões que viria a ter.

Um mês e meio depois do ocorrido, já defendia o Barcelona, clube que deixou em 2017 para atuar pelo Paris Saint-Germain.

No PSG, Neymar teve algumas contusões (no pé) que levaram mais tempo que a nas costas para serem curadas.

Na semana passada, ele voltou a treinar depois de dois meses afastado para se recuperar de entorse no tornozelo direito (com lesão em ligamento) sofrida no fim de novembro.

O curioso é que em todo esse período, de sete anos e meio, nunca, que tenha sido de conhecimento público (eu procurei notícias e não achei), ouviu-se Neymar se queixar de um problema nas costas.

Nada que se referisse a algum resquício da joelhada em 2014, nada pudesse preocupar suas equipes, seus fãs, seus amigos. Nada que chamasse a atenção da imprensa.

Não vi, aliás, ninguém no meio jornalístico comentar acerca da declaração de Neymar feita no segundo capítulo da série, que continua disponível na plataforma de streaming.

Tampouco médicos de Barcelona, PSG ou seleção brasileira divulgaram que o atacante apresentou alguma queixa na região lombar nos exames periódicos a que se submeteu.

Levei meu estranhamento à NN Colsultoria, que administra a carreira do atleta, na semana passada.

A seguir, resumo os questionamentos.:

• Que problema Neymar tem nas costas?
• Há algum termo médico que o qualifique?
• Ele tem exames que comprovem esse problema?
• Faz algum tratamento para amenizar o problema?
• O quanto o problema afeta o desempenho nas partidas?

Inicialmente, a assessoria da empresa respondeu ao meu contato, feito por email, dizendo que eu receberia uma resposta "em breve".

Como nada chegou passados três dias, reforcei o pedido. Mais dois dias sem resposta, nova tentativa por escrito. Silêncio.

O último esforço foi feito nesta sexta-feira à tarde (4), em duas ligações telefônicas para a assessora, com intervalo de aproximadamente uma hora e meia entre elas.

Em nenhuma delas, apesar de ter atendido, a interlocutora estava disponível para conversar. Na segunda chamada, afirmou que ligaria de volta, porém isso não aconteceu.

Desse modo, fica o mistério no ar, até que alguém –seja o próprio Neymar, seja seu estafe– decida desfazê-lo.

Até lá, ficaremos sem saber o que Neymar, que neste sábado completa 30 anos, tem nas costas, um espaço que ele, independentemente de ter um problema ali, reserva costumeiramente para chamativas tatuagens.