Ora Pois

Um olhar brasileiro sobre Portugal

Pesquisa identifica grupos anti-imigração organizados em Portugal

Atividade, por enquanto, está concentrada nas redes sociais

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Lisboa

Em um momento em que a chegada de estrangeiros bate recordes em Portugal, um novo estudo identificou que, embora sejam pouco visíveis fora do ambiente virtual, grupos anti-imigração estão bem organizados e seguem em atividade no país.

"Existem mobilizações anti-imigração em Portugal e isso é um achado relevante, embora essa constatação já possa parecer óbvia para algumas pessoas", diz a coordenadora do estudo, a brasileira Thais França, doutora em sociologia e pesquisadora do Iscte (Instituto Universitário de Lisboa).

Imigrantes  protestam por seus direitos durante desfile do 25 de abril em Lisboa. Imagem mostra diversas pessoas segurando diferentes cartazes. No maior deles está escrito "Portugueses e imigrantes, mesma luta". Em outro, mais ao fundo, há a inscrição "documentos para todos"
Imigrantes protestam por seus direitos durante desfile do 25 de abril em Lisboa - Giuliana Miranda 15.abr.19/Folhapress

"De forma geral, o discurso oficial em Portugal é de minimização desse fenômeno. Desde as políticas públicas, até manuais escolares e de turismo, tende-se a falar de Portugal sempre como um país aberto à diversidade e tolerante com a imigração", explica.

Dados mais recentes indicam que a população estrangeira em Portugal, que tem cerca de 10,3 milhões de habitantes, chegou a quase 1,1 milhão de residentes legais. Já superando as 400 mil pessoas, a comunidade brasileira é, com folga, a maior entre os imigrantes.

A investigação para esse novo trabalho levou cerca de dois anos e integra um projeto de pesquisa europeu que mapeia movimentos contrários à presença de imigrantes.

Além de acompanhar as discussões dos participantes, a pesquisadora também conseguiu entrevistar de forma aprofundada alguns integrantes desses grupos. Segundo ela, não existe um perfil típico dos ativistas contra a imigração.

"São pessoas de perfis diversos, a maioria são homens, mas também há mulheres envolvidas", detalha. Um ponto em comum, porém, é o fato de que essas pessoas são bem integradas à sociedade e distantes do estereótipo de isolamento social.

Segundo França, a maior parte dos integrantes tenta embasar seus posicionamentos em teorias bem determinadas, sobretudo ligadas à ultradireita, que evocam os supostos riscos e os malefícios do aumento dos estrangeiros residentes.

Ao contrário de alguns outros países europeus, onde manifestações anti-imigração já acontecem com alguma regularidade nas ruas, os grupos em Portugal têm agido principalmente online. Isso não exclui, no entanto, a possibilidade de que as ações possam extrapolar o ambiente virtual no curto prazo.

"Com o aumento das ferramentas de monitoramento sobre alguns discursos nas redes sociais, os grupos migraram para ambientes mais fechados e menos visíveis", diz a responsável pelo estudo. Ainda assim, não é difícil encontrá-los. "Há comunidades no Telegram, por exemplo, com mais de 10 mil membros."

O trabalho identificou diferentes graus de intolerância contra a imigração, mas com um ponto similar: a percepção de que, atualmente, Portugal vive uma imigração sem controle.

Existe, de maneira geral, a ideia de que a chegada de estrangeiros está pressionando os serviços públicos, como saúde e de educação, e contribuindo para a manutenção dos baixos salários no país.

"Uma das coisas que esses ativistas anti-imigração dizem é que, com o grande número de imigrantes, começa a haver um investimento muito alto do Estado para a integração dessas pessoas. Como, por exemplo, com a disponibilização de tradução nas escolas ou de comida halal [que segue preceitos para ser consumida para muçulmanos] nas cantinas", exemplifica.

Na visão dos integrantes desses grupos, esse é um dinheiro que o governo poderia estar gastando com a população portuguesa.

Na avaliação da coordenadora do projeto, o aumento das queixas de xenofobia e de racismo não significa, necessariamente, que as pessoas que praticaram as agressões sejam integrantes de grupos organizados anti-imigração.

"O fato de haver mais casos de racismo e xenofobia com imigrantes não significa que essas pessoas sejam ativistas anti-imigração ou façam parte de uns grupos", avalia. "Um grupo com uma agenda própria, com uma pauta, é muito diferente de pessoas que agem independente."

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