Lúcia Araújo foi-se embora pra Pasárgada – e voltou para contar a experiência. Essa jornalista veterana brasileira, que dirigiu o Canal Futura por 17 anos, lançou há pouco o livro "Trágica e Bela: Uma Viagem Pelas 1001 Faces da Pérsia e do Irã" (320 págs., R$ 69,90). A obra relata suas visitas ao Irã e apresenta as caras contraditórias de um país tão mencionado pelo noticiário e ainda pouco conhecido.
É um livro informativo que chama a atenção justamente pelo tom pessoal e vulnerável, em que transparece a curiosidade da autora. Em vez de se parecer como um verbete de enciclopédia, um risco que esse gênero de texto às vezes corre, "Trágica e Bela" apresenta uma imagem construída pela vivência. O Irã que aparece no livro é brasileiro.
Não por acaso o livro abre com uma reflexão sobre o inescapável poema de Manuel Bandeira que diz: "vou-me embora pra Pasárgada / lá sou amigo do rei". "Ao criar a metáfora", escreve Araújo, "o poeta destronou a própria história, atribuindo ao nome Pasárgada tal carga simbólica que acabou eliminando qualquer sombra dos fatos reais".
Em alguma medida, "Trágica e Bela" lembra o livro "Os Iranianos", do jornalista Samy Adghirni, ex-correspondente da Folha em Teerã. Adghirni inclusive escreve o prefácio da obra, elogiando Araújo por não ter desviado a vista das facetas repugnantes do Irã. "O regime dos aiatolás é uma máquina de causar sofrimento", Adghirni escreve, "mas isso não impede Lúcia de se deixar deslumbrar com o país e sua gente". Há também no livro ecos do clássico "O Xá dos Xás", do polonês Ryszard Kapuściński – outro que se foi para Pasárgada e retornou.
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