Pitaco Cultural

Suas impressões sobre peças, séries, música e comida

Pitaco Cultural - Mariana Agunzi
Mariana Agunzi
Descrição de chapéu Todas

Novo bar em SP quer que mulheres comuns cozinhem e contem suas histórias

Projeto do Bar Democrático busca empoderar cozinheiras não profissionais ressaltando a comida afetiva

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

São Paulo

"É tanta gente que cozinha bem e está escondida por aí!"

Autora da frase, a doméstica Maria Emília, 75, também estava escondida no meio de "tanta gente". Mas eis que chegou o dia primeiro de outubro, e aquele lombo assado que ela só preparava para patrões e netos foi parar na mesa de dezenas de pessoas desconhecidas. "Nunca enfrentei tanta gente!", diz.

O prato entrou por um dia no cardápio do Bar Democrático, casa recém-inaugurada na zona oeste de São Paulo, e inaugurou o projeto Cozinha pra Gente. A ideia é que a cada quinze dias uma mulher possa ser a chef e oferecer o quitute que faz com mais gosto para os clientes, a preço fechado (R$ 59).

Senhora de 75 anos posa para foto com camiseta da Marvel. Ela tem cabelo curto e está séria, olhando para a foto
Dona Maria, que levou seu lombo com batatas ao projeto Cozinha pra Gente, do Bar Democrático - Lucas Martini

"Nosso critério é abrir espaço para cozinheiras não profissionais, para empoderar essas mulheres", explica o sócio Lucas Martini, 39. "Dona Maria foi aplaudida de pé. É sobre autoestima", conta. Além de prover insumos, espaço, auxiliares e pagar um cachê, o bar também passa 10% do valor da venda para a cozinheira.

Dona Maria, estreante do projeto, foi a escolhida por seu tempero e história com a cozinha. "Eu tinha 13 anos e trabalhava numa república em Barretos [SP]. As meninas que moravam lá me deixaram um bilhete pedindo bife à milanesa, e eu nunca tinha feito, nem sabia o que era", conta ela. Para não perder o emprego, dona Maria vasculhou as gavetas da casa, achou um livro de receitas, folheou, folheou... e eis que estava lá: o passo a passo da carne empanada.

O emprego que precisou ter ainda criança para ajudar a mãe doente deu o start para outras aventuras na cozinha. E eis que o aprendeu não só a fazer milanesa, mas também carne de panela, carne assada, bife a rolê, lombo. O que dona Maria chama de "comida simples", a gastronomia passou a chamar de "afetiva".

"A cozinheira vai do mínimo ao máximo. Chega com muita insegurança —'como eu vou atender 60 pessoas?' Por isso o projeto, além de oferecer estrutura, passa pelo processo de convencer essa mulher de que ela é capaz e mostrar acolhimento", explica Lucas.

Neste domingo (15), a convidada do Cozinha pra Gente é dona Stella Stumpfs, 62, argentina que mora há 40 anos no Brasil e que aprendeu com a mãe a fazer empanadas fritas. Na ocasião, serão servidas as empanadas (carne ou espinafre com queijo) e panqueca com doce de leite. Já em 29 de outubro, Érika Andrade traz a comida ancestral ao bar com o tutu de Preto-Velho, o acarajá de Iansã e canjica de Oxalá.

"A ideia não é mensurar talentos, mas ir pelo coração", conta Lucas Martini. "Deixamos a cozinheira livre para fazer tudo como ela realmente quer. Mostrar em sua comida tudo aquilo que já viveu."

*

Bar Democrático. Rua Sousa Lima, 54, Barra Funda, São Paulo. Projeto Cozinha pra Gente: aos domingos, quinzenalmente, a partir das 12h.

LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.