Como o casal mais importante do cinema mudo, Don Lockwood e Lina Lamont, reagiu à transição para o cinema falado? E o que fazer se a mocinha, tão perfeita nas telonas silenciosas, tem um timbre de voz, digamos, nada agradável?
O enredo de "Cantando na Cuva", clássico de 1952, volta a tomar os palcos de São Paulo nesta versão em cartaz no teatro Sérgio Cardoso. Além da megaprodução que reúne 25 atores e atrizes experientes em musicais, a peça encanta por fazer chover, mesmo, no palco.
"O equipamento foi importado de Londres e os técnicos ensinaram nossos operadores. Basicamente, temos um contêiner que coleta a água drenada por ranhuras que estão no piso. O sistema bombeia essa água para um segundo contêiner, onde é tratada com produtos químicos", explica Carlos Cavalcanti, 63, produtor do musical. "Então, ela é limpa como a uma piscina, e levada novamente para cima do palco."
Para que Rodrigo Garcia, intérprete de Don Lockwood, não tome um banho de água fria –ou melhor, de chuva fria– no meio da peça, a água bombeada é também aquecida até a temperatura ambiente. Por semana, são utilizados cerca de 2.500 litros nas apresentações.
Mas drenar o que cai do teto não é o único problema a ser solucionado em uma produção assim. Os atores, que em muitas cenas sapateiam, não podem escorregar –para tanto, a madeira é tratada com antiderrapantes. "Embaixo do piso há ainda toda uma rede elétrica e de trilhos embutidos que garantem a movimentação do cenário", ressalta Cavalcanti.
É embaixo do palco, também, que fica a orquestra comandada pelo maestro Adriano Machado. Ou seja: a chuva pode até cair, mas precisa ter a vasão bem controlada para não estragar toda a estrutura que faz o show acontecer, nem os instrumentos musicais.
O resultado, somado às interpretações brilhantes de Garcia, Gigi Debei (Kathy Selden), Fefe Muniz (Lina Lamont), Mateus Ribeiro (Cosmo Brown) e elenco, faz com que as quase duas horas e meia de espetáculo voem. "Entreter as pessoas no tempo do WhatsApp e do celular é um desafio. Era isso que o diretor [John Stefaniuk] queria, e acredito que ele conseguiu", afirma o produtor.
"No fim, 'Cantando na Chuva' é uma história sobre o ser humano que se comunica. Sobre o cinema inspirando o teatro, assim como a literatura inspira o cinema. Uma ode à arte."
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Cantando na Chuva. Teatro Sérgio Cardoso. R. Rui Barbosa, 153, Bela Vista. Qua. a sex.: 20h. Sáb. e dom.: 15h e 19h30. Ingressos: R$ 19,80 a R$ 400, p/ cantandonachuvabrasil.com.
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