E a tão esperada hora chegava; em meio a flatulências de emoção, a queima do cigarro pra fazer cinza era ritual agoniante e sem fim, mas quando a "fritada" acontecia e a fumaça inebriava a mente nada mais tinha importância, eram segundos de ausência e extremo prazer que logo acabavam. Restava a agonia do querer mais e mais... Mais um cigarro agoniante pra queimar, mais uma tragada sufocante pra dar.

Depois era o vazio, outras vezes o desespero disfarçado de tesão, essa era a forma mais fácil de descarregar a energia cinza que sucumbia ao corpo, transar alucinada até que gozo me libertasse da noia... pura ilusão! Era um ciclo infinito de insatisfação.

E quando mente e corpo sucumbiam ao cansaço era a tristeza que se fazia presente, escancarando toda a trajetória insana vivida em lágrimas, vergonha e depressão. Nunca houve um dia em que ter usado essa droga me trouxesse o depois melhor, nunca foi melhor! Sempre a mesma sensação vazia e agonizante da insatisfação... sempre!

Aqueles cinco segundos de êxtase não valiam a dor e a miséria que aquilo trazia pra vida, mas naqueles cinco segundos tudo era tão intenso e vívido que parecia valer a pena tentar. E a cada tentativa parte de minha alma era corroída, queimava, virava cinza como a brita. Eu não percebia o quão superficial minha existência estava ficando, pois no começo eu usava a droga como recompensa, depois passei a usar pra provar minha força de controle inexistente, até que um dia quem me usava era ela.

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