O curso autoformativo "Muito além da boca: um passeio transatlântico pela comida afro diaspórica no Brasil", que estreou esta semana na plataforma da Escola Itaú Cultural, tem por objetivo compartilhar em 20 aulas saberes e fazeres da culinária de origem africana no país, mas também exaltar o poder da alimentação na preservação da memória, no fortalecimento da identidade e na transmissão de cultura.
Gratuito, o conteúdo foi elaborado pela pesquisadora de culturas alimentares Patty Durães, que trabalha com o tema há 20 anos e oferece nessa formação embasamento histórico, contextualização contemporânea e generosas pitadas da sua própria experiência afetiva relacionada à alimentação.
"Olhar para dentro de mim me fez ver o quintal da minha avó, onde fui criada e fui muito feliz. Minha avó era uma cozinheira de mão cheia e tudo na casa dela girava em torno da (e na) cozinha. Então tenho lembranças que guardo com muito amor. Inclusive a panela de ferro onde ela fazia frango refogado", conta Durães.
"Eu me lembro da feira, da quitanda, do açougue, porque minha avó sempre me fez saber comprar tudo o que ela precisava. Escarola, almeirão, catalônia eram verduras que nunca faltavam na casa dela. Cresci sabendo da importância de uma verdura amarga na composição de um prato bem servido."
Durães leva o aluno pelos vastos caminhos dessa hereditariedade a partir de um programa organizado em três eixos. Além da pesquisadora, também ministram aulas Aline Guedes, Andressa Cabral, Kananda Eller, Lourence Alves, Solange Borges e Thalitta Flor.
O primeiro eixo tem o passado como protagonista e traz temas como escravidão, apropriação de tecnologias ancestrais, a história dos tabuleiros nas ruas brasileiras e a relação entre culinária e candomblé.
No segundo, mais direcionado à cotidianidade, alguns tópicos são comidas relacionadas às principais festas de rua do país, escolhas alimentares do dia a dia sob uma ótica decolonial, a partir da valorização da culinária local, e a relação das comunidades quilombolas com a produção de alimentos.
O último, em articulação com o presente e o futuro da comida, aborda temáticas como nutricídio e desertos alimentares, empreendedorismo negro e afrofuturismo na gastronomia.
"Desenhar esse curso, escrever, pensar as aulas foi muito natural. Foi como pensar numa festa da minha família", define a pesquisadora.
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