Pretos Olhares

Fotografia e outras linguagens da arte feitas por pessoas pretas

Pretos Olhares - Catarina Ferreira
Catarina Ferreira
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Projeto em vídeo revisita prática que está na raiz da música negra no Brasil

No Música no Quintal, trio fala sobre origem dos vissungos, cantos que eram praticadas por povos escravizados

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São Paulo

Em um minidocumentário o Projeto Música no Quintal revisita uma prática que está nas raízes da música negra no Brasil, os vissungos, como são denominadas as cantigas de trabalho praticadas por povos escravizados.

As músicas eram coletivas em sua essência. Cantadas em duplas ou em grupos, que respondiam um ao outro sempre em códigos. As canções poderiam sinalizar um momento do dia, como o amanhecer, ou até indicar uma rota de fuga.

gravação do documentário "Música no Quintal e os Vissungos"
Gravação do documentário "Música no Quintal e os Vissungos"; da esq. para a dir. os músicos Otis Selimane, Graciela Soares, Carol leão e Marcelo Santhu - Ana Laura Cintra

A prática chegou no Brasil nos séculos 17 e 18, com a diáspora forçada de povos africanos de origem banto, que habitavam a região central do continente, em que hoje estão países como Angola e Congo.

No documentário "Música no Quintal e os Vissungos", a prática é recuperada pelo trio Tlhangana, formado pelos músicos Graciela Soares, Marcelo Santhu e Otis Selimane Remane, que cantam os vissungos e pesquisam sua história.

No vídeo, o trio de músicos se junta à pianista Carol Leão, idealizadora do projeto, que estuda as origens da música brasileira. Foi ela quem fez o convite ao Tlhangana para registrar suas descobertas e interpretar algumas das músicas. O vissungo é tema de estudos acadêmicos e já foi registrado em um disco na década de 1980, mas sua importância ainda é pouco conhecida, explica Carol.

O álbum "O Canto dos Escravos" (1982), de Tia Doca, Geraldo Filme e Clementina de Jesus foi o primeiro objeto de pesquisa do Tlhangana. Foi neste disco que algumas das canções do cotidiano das pessoas negras escravizadas foram registradas, as músicas não tratam apenas do trabalho forçado, falam de rituais, de festas e da morte.

Para Carol, os vissungos eram uma forma de marcar a passagem do tempo e também de externar sentimentos a partir de um código próprio.

Divulgar a importância de conhecer práticas ancestrais como está é um dos objetivos do projeto que, segundo Carol, deve ter novas edições estudando outros ritmos que estão na base da música brasileira, como cantigas populares indígenas e europeias. "O projeto pesquisa essas práticas culturais que estão ligadas à nossa vida, ao que a gente aprende no quintal, na cozinha de casa, com a nossa avó, nossa mãe", afirma Carol.

O lançamento do curta acontece nesta quarta (13), às 19h, na Goma Arte e Cultura, em Campinas, no interior de São Paulo. A exibição será transmitida ao vivo pelo canal do projeto no youtube do projeto.

Lançamento do documentário 'Música no Quintal e os Vissungos'

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Escreva para catarina.ferreira@grupofolha.com.br

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