Os museus são uma ótima forma de atrair turistas, movimentar a economia e trazer cultura para a população. Entretanto São Paulo, uma das maiores cidades do planeta, parece gostar de ter museus fechados ou em situação precária. É o caso do Museu dos Transportes Públicos, um dos mais queridos pelos paulistanos, e que infelizmente se encontra fechado há alguns anos. Vamos conhecer melhor esta história?
As origens:
A ideia de um museu dedicado aos transportes públicos surgiu em 1968, logo após a retirada dos bondes de circulação. Gaetano Ferolla funcionário da extinta CMTC, passou a percorrer as diversas garagens da empresa, além de galpões e escritórios de outras repartições públicas para juntar um acervo que futuramente se transformaria em um museu. Para guardar o que coletava, Ferolla utilizou um velho espaço da CMTC no bairro da Pari que outrora foi utilizado como espaço de aulas do Senai.
Depois de aposentado da empresa ele continuou fazendo voluntariamente este trabalho que posteriormente foi reconhecido, durante a gestão do então prefeito paulistano Mário Covas (1983-1986), que transformou em realidade o sonho de Ferolla, inaugurando o novo museu em março de 1985. Em 1991 com o falecimento de seu idealizador o museu foi rebatizado em sua homenagem, passando a ser chamado Museu dos Transportes Públicos Gaetano Ferolla. Mesmo com a extinção da CMTC em 1995 o nome de Gaetano foi mantido.
No acervo do museu há bondes movidos por tração animal, bondes elétricos, bonde de manutenção, ônibus elétricos, o Fofão (ônibus de dois andares), além de veículos oficiais e a joia da coroa: um Ford T que percorreu as Américas para abrir a futura rodovia Pan-Americana na década de 1920. O museu conta com exposição fotográfica permanente, objetos raros e biblioteca com acervo dedicado à evolução do transporte urbano.
Fechado para o público:
Todo esse rico acervo está com acesso vetado ao público. Desde sua criação o museu sempre foi tratado como um "puxadinho" da CMTC e, posteriormente, da SPTrans. Por isso jamais teve uma verba dedicada exclusivamente a ele, como é o caso de todos os demais museus paulistanos. Aliás, ele é o único museu público da cidade de São Paulo que não é vinculado à Secretaria Municipal de Cultura (SMC).
Essa diferenciação do Museu dos Transportes o levou a ficar anos sem qualquer verba seja para manter os veículos em bom estado, seja para ampliar o acervo ou manter o espaço em boas condições de uso.
De acordo com uma ex-funcionária que atuou no espaço até 2017 alguns veículos já enfrentavam corrosão e falta de peças, além do espaço sofrer com goteiras, pintura envelhecida etc. Essa reportagem pode observar isso pessoalmente no caso do Ford Modelo T, com radiador apodrecido e vidro traseiro quebrado, e do Ford Landau que estava faltando adornos.
De 2017 para cá houve o desligamento de ao menos duas pessoas encarregadas do museu, o que em nota a esta coluna a SPTrans negou. Entretanto de 1998 a 2017 Henrique Santoro Junior funcionário da casa, exerceu ao menos que informalmente o cargo de diretor do museu.
Desde 2021 o que se vê é um museu fechado ao público com um aviso no site da SPTrans que diz "fechado para obras". Entretanto funcionários da SPTrans sob condição de anonimato garantem que até o momento nada foi feito para retomar a exposição pública.
O que diz a SPTrans:
Em nota a este colunista a SPTrans afirma que trabalha para que o Museu dos Transportes Públicos reabra durante o ano de 2023 e que para isso está investindo R$ 218 mil reais. O investimento prevê tratamento de infiltrações, novos sanitários, acessibilidade, adequação de iluminação entre outras melhorias.
Museu deveria ser repassado para a Secretaria de Cultura:
Em minha apuração sobre este museu, foi possível constatar que até hoje a gestão do espaço foi completamente amadora. Nunca houve uma preocupação em dar qualidade ao museu com a contratação de guias e um museólogo, por exemplo.
É necessário que este museu público seja urgentemente retirado da SPTrans e direcionado à Secretaria Municipal de Cultura, para que passe a ser tratado como um museu público de verdade, com orçamento próprio e funcionários especializados. Do jeito que é hoje em dia, não espanta estar fechado tanto tempo sem ser notado.
Comentários
Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.