Desde o ano de 1939 quando o Mappin inaugurou sua nova loja na praça Ramos de Azevedo, aquele pedaço do chamado "centro novo" – nomenclatura que se atribuiu no começo do século 20 para toda a região central daquele lado do viaduto do Chá – passou a florescer aceleradamente transformando-se em uma das regiões mais movimentadas da capital. Não demorou muito e a faixa de pedestre do lado da loja, na rua Xavier de Toledo, passou a ser conhecida como a mais movimentada do país, palco até de um popular guarda de trânsito, o Luizinho.
O tempo foi passando e o centro novo (e o velho!) continuavam agitados, mas novas regiões atrativas economicamente foram surgindo, dividindo o público para locais como as avenidas Paulista e Faria Lima, e mais recentemente a região da Berrini. Mas o que acabou com o Mappin e ajudou a enfraquecer seu entorno não foram os novos centros urbanos da cidade, mas sim a sua venda. Foi quando Cosette Alves vendeu o Mappin para o empresário Ricardo Mansur que pouco tempo depois levaria a loja e sua outrora concorrente, a Mesbla, para a bancarrota.
A falência do Mappin transformou aquela região para sempre. Nada que o sucedeu naquele espaço foi duradouro como o primeiro ocupante do gigante art déco projetado pelo arquiteto Elisário Bahiana. Tivemos o Extra Mappin e depois a loja da Casas Bahia que permaneceu anos no local, resistindo a todas as adversidades do nosso centro até que semanas atrás encerrou as atividades.
São Sesc salvador
No derradeiro dia do mês de março a Folha publicou a notícia de que o prédio será ocupado novamente, com o Sesc assumindo o velho edifício do Mappin. Ao primeiro momento até parece uma ótima notícia, mas não é.
Distante poucas quadras dali já existe uma unidade do Sesc, o 24 de Maio, que ocupa, veja só, o espaço de outra antiga loja de departamentos falida que marcou época: a Mesbla. Será que lá anda tão superlotado que demanda a criação de outra unidade assim tão perto. Creio que não.
Abrir uma unidade do Sesc parece que se tornou uma espécie de Santo Graal de edificações vazias do centro e isso não é uma boa ideia. Pelo contrário, só escancara que estão tampando o sol com a peneira ao invés de buscarem uma solução realmente racional e definitiva para tantos edifícios comerciais fechados no centro de São Paulo.
Na incapacidade de se promover o centro paulistano como uma região acolhedora e hospitaleira, comete-se o erro de instalar cada vez mais serviços que não vão movimentar a região economicamente. Adoro o Sesc e ele é ótimo para seus frequentadores, mas não atrairá novos negócios para o entorno tomado por lojas vazias e ruas sujas da região do histórico prédio do Mappin.
Ruas como a Conselheiro Crispiniano outrora a "rua dos fotógrafos" e a Barão de Itapetininga estão cada vez mais vazias e com placas de aluguel nas paredes. Do outro lado do viaduto do Chá ruas como José Bonifácio e Benjamin Constant são retalhos do que foram no passado, com inúmeras portas e até prédios inteiros fechados. Vai tudo virar Sesc para resolver o déficit ocupacional do centro? Vale lembrar que na época da demolição do Edifício São Vito na zona cerealista, em 2011, foi prometida uma unidade do Sesc que até hoje não existe de fato.
E ainda temos o caso de vários prédios outrora desocupados da região central que se transformaram em prédios públicos. Foi assim com o Edifício Sampaio Moreira, que virou Secretaria Municipal de Cultura, com o saudoso Hotel Hilton da avenida Ipiranga, agora um tribunal, e o Othon Palace Hotel que é sede de secretarias da prefeitura. Ainda há dezenas de outros prédios ao redor vazios esperando ocupação.
É preciso urgente novas medidas públicas para estimular a ocupação destes imóveis atraindo lojas, escritórios, moradores e principalmente jovens empreendedores e estudantes, sob o risco de que se não fizermos isso o mais rápido possível o centro vai se tornar um imenso vazio, igual ao novo Vale do Anhangabaú.
Comentários
Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.