São Paulo Antiga

A história e as curiosidades de São Paulo passam por aqui

Capela Dom Bosco, na Mooca, corre risco de ser demolida

Moradores, fiéis e entidades lutam pela preservação do templo construído em 1936

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Se fôssemos comparar a Mooca com algum país mundo afora seria possível dizer que lembra as duas Coreias. O bairro tem até algo alusivo à zona desmilitarizada entre os dois países, que seria a linha ferroviária da CPTM que o divide o bairro em dois. Do lado mais a leste da linha tem o Juventus, prédios restaurados, ruas arborizadas, vilas charmosas e muita gastronomia. Já do outro, próximo ao centro, existem palacetes caindo aos pedaços, sujeira nas ruas, muitos assaltos e a fábrica da Antártica como maior ícone do abandono da memória industrial da cidade.

É neste lado "norte coreano" da Mooca que existe uma adorável capela quase centenária frequentada pelos moradores da região, que está correndo risco de ser demolida desde que foi vendida pela instituição mantenedora para uma empresa.

capela na Mooca
Capela Dom Bosco está localizada na rua Dom Bosco, na parte da Mooca mais próxima da região central da capital paulista. - Douglas Nascimento/São Paulo Antiga

Localizada na rua Dom Bosco e inaugurada em agosto de 1936 a capela Dom Bosco foi construída pelos salesianos seguindo iniciativas similares anteriores, como o Liceu Coração de Jesus e o Colégio de Santa Inês, ambos no centro da capital. O novo espaço era uma expansão da entidade para o leste paulistano e contava além da capela um edifício com escola para crianças e até adultos, além da profissionalizante.

Tão logo foi aberta a nova instituição tornou-se referência na Mooca rapidamente preenchendo todas as vagas por filhos de moradores da região, bem como adultos aproveitando para iniciarem ou retomarem os estudos. A capela, por sua vez, estava sempre cheia com atividades que iam de batizados a missa de intenção de almas, passando pelas cerimônias de batismo e primeira comunhão.

capela
Na foto o Instituto Salesiano São Francisco de Assis e a Capela Dom Bosco em 1936, ano da inauguração. - Acervo pessoal/Divulgação

A importância do Instituto Salesiano São Francisco de Assis e da capela Dom Bosco foi tão grande na região, que já em 1937 a câmara municipal determinou a mudança do nome da rua onde fica a entidade de Xingu para Dom Bosco, como forma de reconhecimento.

Os salesianos permaneceram com forte atividade no local por décadas, chegando a abrir uma editora no prédio do instituto. Até o início dos anos 1980 a escola se mantinha gratuita para todos, tendo como único custo a compra dos uniformes. No final da mesma década a entidade passou a ter problemas financeiros e passou a cobrar mensalidades. Encerrou as atividades em 1996.

PRÉDIO E CAPELA VENDIDOS

Durante a pandemia numa decisão que surpreendeu fiéis e moradores da região a entidade mantenedora acabou por vender toda a área para a Radial Rolamentos, também estabelecida na Mooca. No início a empresa comprometeu-se em manter a capela aberta, porém aos poucos o discurso foi mudando e a empresa não permitiu mais seu funcionamento alegando – de acordo com fieis frequentadores – que o imóvel oferece risco. Até mesmo o busto de Dom Bosco que ficava na fachada foi retirado do local, aumentando ainda mais o temor pela demolição da pequena igreja.

Capela
Crianças, jovens e adultos frequentadores da Capela Dom Bosco deixam bilhetes e cartazes pedindo a reabertura da igreja. - Divulgação

UNIDOS PELA PRESERVAÇÃO

A insensibilidade da empresa aos apelos de moradores, frequentadores e defensores do patrimônio da Mooca levou a Emerson Facundini, farmacêutico, ex-aluno do colégio e batizado na capela Dom Bosco a abrir um abaixo-assinado pedindo a reabertura do templo e sua preservação, juntando até o momento quase 900 assinaturas.

O documento chegou até as mãos de Ana Marta Ditolvo, docente da FAAP e especialista em preservação do patrimônio histórico que, indignada com a possibilidade de ver a Mooca perder mais um bem histórico relevante, decidiu entrar com o pedido de tombamento da capela. Ela preparou um dossiê reunindo dados e imagens para provar a relevância e necessidade de preservação e protocolou a solicitação junto à prefeitura paulistana.

capela
A arquiteta Ana Marta Ditolvo, docente da FAAP, especialista em preservação do patrimônio histórico e autora do pedido de tombamento da capela, aponta para cartaz que anuncia o fim das atividades religiosas no local. - Douglas Nascimento/São Paulo Antiga

Este colunista contatou a Secretaria Municipal de Cultura sobre o andamento do estudo de tombamento da capela, que informou que o pedido ainda encontra-se em análise pelo Núcleo de Identificação e Tombamento do departamento do patrimônio histórico – DPH-NIT – ainda sem previsão de ser pautado para apreciação e deliberação pelo CONPRESP.

Já a Radial Rolamentos, proprietária da capela, foi consultada por telefone e não respondeu aos questionamentos, afirmando que um responsável da empresa retornaria as ligações, o que não aconteceu até o fechamento desta coluna.

Preservar a capela e mantê-la reaberta é fundamental para essa região da Mooca, tão carente de patrimônios culturais preservados e bem menos badalada que a parte do bairro do outro lado da linha férrea.

LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.