São Paulo Antiga

A história e as curiosidades de São Paulo passam por aqui

A história da caravela da avenida 23 de maio

Point exótico foi de restaurante a lava-rápido e acabou demolido em 1995

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Douglas Nascimento
São Paulo

A capital paulista é uma cidade que está em constante transformação e sua atividade comercial acompanha esta mutação. Diariamente abrem novos restaurantes, bares e casas noturnas e igualmente fecham tantas outras. O dinamismo dos negócios, a especulação imobiliária e as fases que alguns bairros passam (seja de ascensão ou decadência) deixam lá no passado estabelecimentos que marcaram época.

Pensando nisso lembrei-me de um local lendário de São Paulo, que passei muitas vezes em frente mas nunca tive a oportunidade de frequentar, e que alguns dos leitores provavelmente irão se recordar ao ver a imagem abaixo.

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O exótico Restaurante Caravela, na avenida 23 de Maio, em seus primeiros anos de funcionamento. - Divulgação

Por exatos 25 anos, entre 1970 e 1995, quem transitava pela avenida 23 de Maio, uma das mais importantes artérias da cidade, deparava-se com esta grande estrutura que confundia muitos transeuntes incautos: uma curiosa e rudimentar embarcação que parecia ter sido transportada do Oceano Atlântico para ser ancorada na selva de pedra paulistana.

A construção, de gosto duvidoso, e que a meu ver só perdia em cafonice para o monumento a Borba Gato, em Santo Amaro, foi o lendário restaurante Caravela. Especializado em frutos do mar, mas com um cardápio bem diversificado que ia de churrasco à tradicional feijoada, o estabelecimento foi por alguns anos uma atração da cidade, onde muitos frequentaram mais por curiosidade em conhecer o espaço do que pelas iguarias servidas.

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O restaurante Caravela em fotografia da década de 70. - Divulgação - Acervo do autor

Ocupando uma área de 4500 metros o local era construído em madeira e alvenaria e possuía algumas peculiaridades para atrair os frequentadores, entre elas um canhão europeu do século 17 que ficava no convés.

Apesar de estar longe das intempéries do mar aberto, o mau tempo atingiu o restaurante que, com dificuldades para se manter, acabou fechando. Foi quando iniciou a fama do lugar não ter sorte para emplacar negócios, pois dali em diante vários estabelecimentos ocuparam o espaço que outrora foi o Caravela, sendo o mais famoso deles uma danceteria.

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A caravela da 23 de Maio no período em que funcionou a danceteria Latitude 3001. - Divulgação - Acervo do Autor

Chamada Latitude 3001 a casa noturna foi a segunda ocupante da caravela encalhada da avenida 23 de maio, sendo inaugurada em 1984. Foi durante a fase de danceteria, do empresário Sandro Samelli (o mesmo da lendária boate Limelight), que a caravela recebeu em suas dependências João Gilberto e a roqueira alemã Nina Hagen. Contudo as presenças ilustres não foram suficientes para manter o local em evidência que fecharia, pela segunda vez, em 1989.

Neste mesmo ano a casa reabriu completamente remodelada se transformando na Lamba-Reggae, aproveitando a febre destes dois ritmos musicais que estavam em alta naquela época. Igualmente o negócio não prosperou.

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Entre o final da década de 1980 e início dos anos 1990 o local foi a danceteria Lamba-Reggae - Divulgação - Acervo do autor

É a partir deste momento que a caravela da 23 de maio entra em uma fase ruim, onde o que se abre rapidamente fecha, desvalorizando bastante o ponto comercial. Basta dizer que entre 1991 e 1994 o local recebe diversos estabelecimentos no espaço, como loja de materiais de construção e até mesmo um lava-rápido.

Sem atrair interessados em alugar o espaço novamente, Antônio Rodrigues Alves, seu proprietário à época, ainda se deu ao luxo de recusar algumas ofertas de compra da área, como o de um interessado em construir um motel no local e um grupo de empresários chineses que queriam abrir um cinema a céu aberto no terreno.

Em 1995 ele é finalmente convencido a vender o espaço para a construtora Setin. Segundo reportagens da época o terreno da caravela estava sendo negociado por 6.5 milhões de dólares. Uma vez vendida a embarcação que nunca viu o azul do mar foi demolida e em seu lugar foi erguido um arranha-céu que abriga até hoje um hotel.

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