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O caminho para fortalecer o cuidado em saúde mental está no SUS

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Isabel Opice Daniela Krausz Maria Fernanda Quartiero Mariana Rae

Sintomas relacionados à saúde mental impõem sofrimento e podem ter impactos sobre todos os aspectos da vida de uma pessoa. Além da possível dificuldade em identificar e comunicar estes sintomas em função do estigma e da desinformação que ainda cercam o tema, buscar ajuda é especialmente desafiador para as 150 milhões de pessoas que dependem exclusivamente do SUS para ter acesso à saúde

Dados publicados na Folha mostram que 9 em cada 10 municípios têm menos de um psicólogo no SUS a cada mil habitantes. Considerando que mais de 26 milhões de brasileiros viviam com sintomas de ansiedade e depressão mesmo antes da pandemia e desde então o cenário se agravou, a demanda por atendimento especializado explodiu e muitas pessoas estão sem conseguir acessá-lo.

Em 2019, 71% das pessoas com sintomas compatíveis aos de depressão no Brasil não recebiam tratamento. Dados do Panorama da Saúde Mental, estudo recente lançado pelo Instituto Cactus, revelam ainda que 62% dos entrevistados de uma amostra representativa de todas as regiões do país não acessam nenhum tipo de serviço de apoio à saúde mental. Torna-se, portanto, fundamental pensar em um modelo de serviço que contemple as necessidades da população de maneira ágil, eficaz e direcionada.

Uma das respostas está no próprio SUS, na rede de atenção primária. Porta de entrada do sistema de saúde, a atenção primária está presente em todos os municípios brasileiros e suas mais de 52 mil equipes atuam próximas às suas comunidades, conhecendo seus desafios e vulnerabilidades.

Assim como acontece com outras condições de saúde, estudos demonstram que as chances de agravamento dos transtornos são menores e as de sucesso no tratamento são maiores quando a detecção e as intervenções de cuidado ocorrem cedo. Portanto, fortalecer e capacitar essas equipes para identificar, acolher e apoiar pessoas que estão experimentando os primeiros sintomas de sofrimento mental é uma alternativa crucial para democratizar o acesso ao cuidado e prevenir o agravamento.

Pesquisas e iniciativas neste sentido ganham terreno no Brasil e no mundo e mostram resultados significativos, como o projeto Empower, de Harvard, nos EUA. No Brasil, a ImpulsoGov, organização sem fins lucrativos que apoia gratuitamente a gestão do SUS nos municípios, iniciou em setembro um projeto piloto para fortalecer o cuidado em saúde mental a partir da atenção primária do SUS em São Caetano do Sul, na Grande São Paulo.

A iniciativa irá capacitar profissionais da rede, como enfermeiras e técnicos de enfermagem, para identificar, rastrear e ofertar cuidados primários de saúde mental para pessoas com sintomas leves e moderados de depressão. Cada profissional formado realizará ciclos de atendimentos para esses casos com base em uma abordagem de apoio psicossocial recomendada pela OMS sob a supervisão de especialistas. Sem a intenção de substituir o papel do especialista, o modelo visa ampliar, desafogar e qualificar a rede de cuidados oferecidos à população.

Num país em que o acesso ao serviços de cuidado em saúde mental é escasso e marcado pelas desigualdades de raça, classe e região, fortalecer iniciativas na rede de maior capilaridade do SUS emerge como um caminho viável e escalável para reduzir a lacuna entre a demanda e a oferta de atendimento e garantir o direito de todos ao cuidado integral.

Acompanhe as iniciativas do Instituto de Estudos para Políticas de Saúde também no Instagram pelo @iepsoficial

Isabel Opice e Daniela Krausz, diretora de operações e gerente de projetos de saúde mental da ImpulsoGov, ONG que apoia gratuitamente governos municipais no uso de dados e tecnologia no SUS; Maria Fernanda Quartiero e Mariana Rae, diretora-presidente e coordenadora de projetos do Instituto Cactus, entidade filantrópica dedicada à promoção da saúde mental no Brasil. 

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