Ainda que atravessado por muitos tabus, o tema da saúde mental está sendo muito mais debatido em nossa sociedade, sobretudo depois de termos vivenciado os efeitos da pandemia de coronavírus. Mas nos cabe questionar sob que prisma ele tem sido abordado. Trata-se de uma temática cada dia mais capturada pelo viés do diagnóstico, da identificação de algum transtorno, e pautada a partir da doença, que desconsidera as singularidades de cada pessoa e os seus contextos.
Não dá pra falar em saúde mental sem falar em direitos humanos e condições sociais básicas. O cuidado em saúde mental, por essa perspectiva, passa necessariamente por pensarmos também nas injustiças sociais, nas relações de trabalho cada vez mais fragilizadas, na maneira como nos relacionamos com as minorias e com as populações vulnerabilizadas, no modelo de educação que priorizamos, na situação econômica e política do país, ou seja, em todos os aspectos que incidem diretamente na vida das pessoas.
É fundamental que toda e qualquer campanha de sensibilização da sociedade para as questões de saúde mental possa estimular o debate sobre o tema, mas que nenhuma delas desconsidere o contexto social em que está inserida, que nenhuma delas negligencie as demandas por políticas públicas que possam efetivamente operar pela promoção de saúde ou que proporcionem espaços de acolhimento aos segmentos que se encontram em sofrimento psíquico. Esse debate não pode se restringir à busca por soluções imediatas para casos individuais, pois assim não mudaremos, de fato, a realidade.
O direito à saúde está inserido em um amplo conjunto de questões relacionadas à saúde integral e ao bem-estar, assim como aos direitos humanos. Evidenciar a dimensão coletiva da saúde mental em campanhas que pretendem sensibilizar a sociedade sobre esse tema é fazer com que elas assumam um compromisso social e ético, evitando que seja apenas mais um instrumento de culpabilização das pessoas por sua própria condição de adoecimento. Precisamos colocar em análise as nossas práticas e os lugares de saber e poder que ocupamos, para que de fato, estejam à serviço da garantia dos direitos fundamentais, do enfrentamento das violências, dos preconceitos e das condições objetivas e subjetivas que produzem sofrimento. Afirmar a dimensão coletiva no debate sobre saúde mental é um caminho.
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