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Tarcísio ignora sistema universitário paulista

Principal hub de pesquisa, ciência e tecnologia do Brasil também está em risco

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São Paulo (SP)
Duas caixas brancas com suas tampas abertas, dentro de uma tem uma nota fiscal e dentro da outra tem diversos livros, cadernos e papéis.
Andres Sandoval/SoU_Ciência

A análise comparativa dos programas de governo dos candidatos a governador é espantosa, em especial quando se coteja as propostas para o principal sistema de educação superior, ciência e tecnologia do Brasil, que está baseado em São Paulo. No ranking THE 2022, por exemplo, as 6 universidades públicas paulistas (USP, Unicamp, Unesp, Unifesp, UFSCar e UFABC) estão entre as 15 melhores instituições brasileiras, encabeçando a lista com as três primeiras: USP, Unicamp e Unifesp. Durante a pandemia, 44% da produção científica brasileira sobre Covid-19 foi realizada por instituições paulistas (segundo pesquisa SoU_Ciência em andamento), o que demonstra a importância do sistema de pesquisa no Estado, atuando para fazer frente à tragédia, apesar dos cortes e ataques desferidos pelo Governo Federal.

Há um mês, publicamos neste blog uma comparação dos programas dos quatro principais candidatos a presidente. Eram importantes as diferenças, mas todos tinham alguma visão estratégica sobre o tema e, em geral, propostas concretas. O que surpreende em São Paulo é que o candidato Tarcísio Freitas simplesmente ignora o sistema paulista, responsável por mais de ⅓ da pesquisa no Brasil, como aponta a Clarivate Analytics (2019). Em seu programa de 43 páginas, sequer são mencionadas a USP, a Unicamp, a Unesp ou a Fapesp.

De outro lado, Fernando Haddad, como professor da USP, ex-Ministro da Educação por 6 anos, período de maior expansão de vagas públicas da história brasileira, tem amplo domínio do tema, mais propriedade no que apresenta e propostas concretas, que destacaremos aqui. A tabela comparativa completa dos dois programas na área de educação superior, ciência e tecnologia pode ser consultada em nosso site.

O programa de Tarcísio sequer apresenta uma visão estratégica para o sistema de educação superior, ciência e tecnologia - até o de Bolsonaro apresentava, como já discutimos e problematizamos anteriormente. Em relação à conexão universidade-políticas públicas, a única menção de Tarcísio é um vago elo entre ciências humanas, artes e patrimônio cultural paulista. Para o fomento ao desenvolvimento econômico, a única aposta é defender a ação de incubadoras de startups e núcleos de inovação. Com o detalhe que a palavra "incubar", no programa, está grafada com "e" (p. 31): encubar na verdade é envasilhar, encaixotar; o contrário do significado correto com "i", incubar, que significa fazer nascer, estimular crescer, desenvolver.

Já Haddad apresenta uma visão estratégica clara, ao propor aprofundar a conexão entre sistema universitário e de pesquisa com metas de desenvolvimento, políticas públicas, sustentabilidade e garantia de direitos: "O estado de São Paulo concentra as maiores cadeias produtivas do país, é sede do capital financeiro nacional e do agronegócio, assim como abriga o mais importante aparato universitário e científico-tecnológico brasileiro (p.4) (...) Vamos aproveitar toda essa estrutura e ampliar seu potencial, criar um sistema estadual de inovação para a promoção do desenvolvimento sustentável com justiça social e climática, com a modernização da estrutura produtiva e a promoção da transição energética, o fortalecimento da capacidade inovadora, a criação de empregos e renda, com maior remuneração no campo e na cidade" (p.7).

Entre as propostas concretas de Haddad estão: a) ampliar a cooperação entre universidades, prefeituras e regiões no aprimoramento de políticas públicas e desenvolvimento territorial; b) investir na pesquisa em centros de saúde, hospitais universitários e institutos para se antecipar a futuras crises, epidemias e pandemias; c) articular de forma cooperativa centros de pesquisa e inovação com a cadeia produtiva em toda sua diversidade, alinhada a uma perspectiva socioambiental; d) ampliar investimento e oferta de vagas públicas no ensino superior e tecnológico; e) fortalecer a Fapesp e ampliar programas de bolsas; f) ampliar a internacionalização do sistema paulista; g) fortalecer a extensão universitária e ação com a economia solidária e criativa; h) modernizar e facilitar compras públicas das universidades; i) investir na formação e valorização dos professores em todos os níveis; j) fortalecer e ampliar a política de cotas, bolsas, auxílio permanência, incluindo a pós-graduação; k) realizar política de inclusão digital e tecnológica em todos os níveis da educação.

Para os que entendem que o desenvolvimento econômico e social, com garantia de direitos, combate à desigualdade e responsabilidade ambiental depende do fortalecimento e expansão de um sistema avançado na formação de pessoas, na produção de conhecimento, com pesquisa básica e aplicada, parece não haver dúvida em quem devemos defender e votar para governador de São Paulo. Com um governador bolsonarista, o risco é trazermos a mesma política de desmanche do sistema federal para o estadual, e termos um infarto no coração do sistema científico brasileiro. Que a razão e o eleitor salvem São Paulo e o Brasil de entrarmos de vez no reino do obscurantismo.

* Foram consultados os programas dos candidatos protocolados no TSE em agosto de 2022. São os programas que têm validade oficial como compromisso eleitoral. Abaixo os links:

Programa de Governo de Tarcísio Governador 2023-2026

Programa de Governo de Haddad Governador 2023-2026

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