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Depois da Covid-19, o que fazer?

A pandemia não acabou e os sintomas da Covid Longa geram grande preocupação

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Imagem ilustra uma mulher com referência aos efeitos da covid longa.
Gerado por IA da Shutterstock

Após três anos de pandemia, de amplo trabalho da ciência e dos cientistas para a obtenção de vacinas, verificamos uma certa estabilização no número de casos graves e também de óbitos pela Covid-19. Mesmo com a disseminação das mentiras produzidas e disseminadas agressivamente pelos antivacinas, houve uma cobertura vacinal adequada, especialmente no primeiro ano e, embora tenhamos que trabalhar muito ainda na questão da hesitação vacinal, houve uma diminuição do número de casos graves e de óbitos, graças à ciência e à vacina.

Porém, não podemos dizer que a pandemia acabou, apesar de parecer caminharmos para um processo de arrefecimento. Podemos dizer efetivamente que o número de internações e de óbitos caiu ao longo dos últimos meses e manteve certa estabilidade nas últimas semanas, embora ainda tenhamos cerca de 300 mortes diárias e jamais poderemos esquecer as mais de 700 mil vidas que nos foram tiradas. Também não sabemos se chegamos a uma estabilização no número de novas variantes que causam preocupação, apesar de não termos tido novas variantes nos últimos meses.

Neste momento uma coisa certamente nos preocupa e estará conosco por um certo tempo: a Covid Longa. Esta é caracterizada por uma série de sintomas que podem estar presentes mesmo após vários meses da doença e independente da gravidade e de necessidade de internação. São mais de 200 sintomas que foram associados aos efeitos da Covid-19, depois da Covid, causando impacto em vários órgãos e atingindo cerca de 65 milhões de pessoas no mundo.

Dentre os efeitos mais frequentes estão dores musculares, dores nas articulações, fadiga persistente, falta de ar especialmente ao mínimo exercício, tosse persistente, taquicardia e perda de memória. Estudos também mostraram outras alterações como o surgimento de uma condição diabética ou agravamento de uma diabetes pré-existente. Outros mostram um aumento na ansiedade e depressão, estes ainda menos estudados e que podem estar relacionados a outros fatores. Os sintomas são variáveis em intensidade e não ocorrem todos ao mesmo tempo, tendo algumas pessoas sentindo alguns dos efeitos e podem durar de 3 meses a 1 ano, dependendo do caso. Ainda há muito a estudar e precisamos ampliar nosso conhecimento sobre este tema, mas já podemos sentir que há uma mudança em termos de saúde coletiva e ela precisa ser abordada.

E, antes que os antivacinas aleguem que esses efeitos são causados pelas vacinas, é importante citar que vários estudos (e muitos outros em andamento) demonstraram que os efeitos da Covid Longa são mais proeminentes naqueles que não se vacinaram e em menor intensidade, mas bastante preocupante, naqueles que não receberam as doses de reforço. Aliás, os antivacinas carecem de dados para demonstrar o que alegam.

Um dos nossos grandes desafios neste momento será entender melhor o impacto da Covid Longa na população brasileira. Porque ela ocorre em alguns indivíduos e outros não, como fazer o diagnóstico correto e como tratá-la. O diagnóstico não é simples e é preciso não só treinar nossos profissionais de saúde, como manter um acompanhamento dos pacientes, pois ainda não há testes para isso.

Em termos de tratamento não temos muitas opções, no entanto, já sabemos que (como mencionado acima) as vacinas e os esquemas vacinais completos dão maior cobertura na prevenção da Covid Longa, auxiliando na recuperação da Covid-19. Outros estudos mostraram recentemente que alguns dos fármacos que são utilizados para o tratamento da Covid-19 logo no início dos sintomas, tal como o Paxlovid, diminuem a probabilidade de desenvolver a Covid Longa. Porém, estes medicamentos são caros e ainda não acessíveis no SUS. A utilização desses medicamentos logo no início da Covid-19 naqueles que têm mais fatores de risco, como diabetes, hipertensão ou alguma imunodeficiência, pode ajudar muito.

Uma das necessidades para o pós-covid seria a criação de ambulatórios específicos para o atendimento voltado à reabilitação. Nosso sistema, quer público ou privado, não está preparado para lidar com o grande contingente de pessoas que precisaram e ainda precisam de atenção assistencial. Especialmente no SUS, a criação de unidades de reabilitação são necessárias, especialmente para atender a população mais carente, que pouco acesso tem a técnicas que são muito eficazes e que trazem benefícios para todos, como a fisioterapia, a terapia ocupacional e a terapia cognitiva.

Todas as possibilidades devem ser pensadas para minimizar os efeitos da Covid Longa, para melhorar a qualidade de vida das pessoas que ainda lutam com os efeitos da Covid-19. Tomar as vacinas e manter os esquemas vacinais atualizados deve ser estimulado e os antivacinas combatidos. Precisamos de bons programas de informação sobre aumentos no número de casos (se houver) e mecanismos de vigilância que podem ser implantados para antecipar a entrada de novas variantes. Continuar os estudos sobre formas de diagnóstico e possíveis tratamentos são também fundamentais. No entanto, e talvez mais importante, é preciso alertar a população para a prevenção, continuar alertas para evitar a Covid-19. A melhor forma de prevenção da Covid Longa é não ter Covid-19 e se não foi possível evita-la, melhor não repetir a dose.

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