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Atenção: acreditar que a pandemia acabou faz mal à saúde!

Fim da Emergência em Saúde Pública não é o fim da pandemia da Covid-19

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São Paulo (SP)
Imagem de uma mulher negra de perfil e olhos fechados, com cabelo afro preto, um brinco de argola dourado e os ombros de uma camiseta branca, com um fundo vermelho à esquerda e azul claro à direita e uma linha semelhante à de um gráfico subindo para o meio e depois descendo para a esquerda.
Babi Lopes/SoU_Ciência

Recentemente a OMS declarou o fim da emergência de Saúde Pública e muita gente já entendeu que seria o fim da pandemia da covid-19. Passados pouco mais de três anos do anúncio da mesma organização, declarando a pandemia do coronavírus, a humanidade continua tendo que lidar com um vírus que surgiu em 2019 e trouxe insegurança e muitas perdas.

Longe de querermos nesse texto debater se aprendemos algo - porque nos parece que aprendemos muitas coisas, mas estamos esquecendo rapidamente outras -, mas é importante refletir o que significa o fim da emergência de saúde pública e como lidarmos com a pandemia daqui para frente.

No mundo, a preocupação deve continuar, pois temos duas questões importantes que não se pode minimizar. A primeira, é que o vírus continua circulando e em que pese termos uma parte da população com a imunidade mais desenvolvida para combater o coronavírus (quer por vacinação, por infecção prévia ou a combinação dos dois), ele não desapareceu e tudo indica que não irá desaparecer tão cedo.

O Sars-Cov-2 nos surpreendeu a todos, comunidade científica e médica, ao demonstrar grande capacidade de mutação e há hoje centenas de mutantes já caracterizadas. Muitas delas nem serão percebidas, mas existem muitas outras que precisam continuar monitoradas, pois geram interesse e outras que geram preocupação de fato. Por isso, são chamadas de variantes de interesse (pois continuam sendo observadas) e variantes de preocupação (que são acompanhadas e que podem gerar novas ondas).

O outro fator que preocupa a todos nós é a existência ainda de uma enorme falta de equidade entre os países e muitas nações ainda têm baixo percentual de sua população vacinada, o que aumenta a chance de circulação do vírus. Estamos em um mundo globalizado e as pessoas estão em constante translocação. Não podemos esquecer que foi assim que o vírus se espalhou em todo o mundo em 2020. Embora no Brasil tenhamos um percentual elevado de vacinados com as primeiras doses e isso conferiu uma imunidade coletiva que possibilitou combater a doença grave, ainda temos muitas pessoas que não tomaram as doses de reforço e lidamos com a volta da hesitação vacinal. Isso, aliado ao fato de que as pessoas se sentem mais seguras e já não utilizam máscaras, além da baixa testagem, mostram uma insegurança no sistema de Saúde Pública. Os sistemas de controle e de prevenção de novas variantes de preocupação ou novas ondas, podem falhar.

Certamente, estamos no melhor momento desde que a pandemia começou há três anos. O sistema de saúde não está mais nas mesmas condições de sobrecarga de leitos e de atenção primária, deixando de ter uma mobilização coordenada dos recursos para atender a emergência em demanda elevada. Por isso, a OMS tomou essa decisão com base nos dados e nas orientações de especialistas. Porém, não podemos esquecer que a Covid-19 continua ceifando vidas, são cerca de 250 a 300 óbitos diários. Não podemos achar que isso é normal, como também não podemos esquecer das mais de 700 mil vidas que foram levadas pela doença, sem contar aqueles que não foram computados pois não foram diagnosticados a tempo.

Além disso, continuamos lidando com os movimentos antivacinas, que insistem em dizer que as vacinas são experimentais e que produzem danos à saúde. O SoU_Ciência tem mostrado que essas afirmações são infundadas e carecem de evidências científicas. Acompanhamos um sistema profissional de divulgação de mentiras e disseminação do medo, que conta inclusive com médicos e pessoas com suposto conhecimento, mas que estão ganhando e monetizando o tema. Os absurdos são tamanhos que temos agora profissionais que oferecem seus caros serviços para "desvacinar" as pessoas em um claro movimento de charlatanismo a preços elevados.

O fim da emergência em Saúde Pública foi uma medida correta, considerando o momento que vivemos. Mas, acreditar que o anúncio da OMS é o fim da pandemia pode fazer muito mal à saúde. Cientificamente, continuamos em uma pandemia, pois a doença está distribuída em todos os continentes e causa impactos na saúde humana. Há que se atentar para o que a própria OMS salientou, assim como a Ministra da Saúde Nísia Trindade em seu pronunciamento recente: é preciso continuar os cuidados, as medidas de prevenção, a vacinação e os estudos, pois os cientistas continuam a busca para compreender os desafios do Sars-Cov-2 e suas consequências.

Por isso, vamos celebrar, mas não vamos deixar de vigiar. A vacinação é o passo mais importante dessa vigília preventiva. Vamos ter esperança, em breve a Ciência trará mais e melhores vacinas e isso irá nos ajudar a baixar mais ainda os casos de doenças graves, bem como combater as variantes que afetarem mais a saúde humana. Este é um dos maiores aprendizados a assimilar a partir dos três anos da pandemia que marcou nossas gerações e do qual não podemos nos esquecer.

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