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IA para avanços na Ciência e um mundo melhor

Como premissas: a ética, a justiça social e a Educação

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São Paulo (SP)
Imagem multicolorida retratando uma espiral de DNA, um cérebro, um rosto humano com um olho em destaque, um buraco negro, um vírus e uma silhueta humana.
Meyrele Nascimento/SoU_Ciência

Em recente artigo no Blog do SoU_Ciência na Folha de São Paulo tratamos da temática candente das plataformas de Inteligência Artificial (IA), como o ChatGPT, e fizemos uma breve análise de recente pesquisa publicada sugerindo que a plataforma em questão teria um forte viés político com tendência à esquerda.

Em nosso texto, buscamos mostrar que a plataforma tem como base um conjunto de dados acessados a partir de metodologias consistentes de IA, em que pesem falhas e aprimoramentos a serem feitos. Portanto, plataformas como o ChatGPT por si sós não seriam capazes de produzir vieses, mas expressam aquilo que está presente nas bases de dados e que, a partir das metodologias de IA de recolha de evidências e informações confiáveis, representam consensos sobre assuntos e temas pesquisados.

A intenção aqui não é defender uma ou outra plataforma de IA, mas refletir sobre como se pode avançar a partir de dados e evidências científicas produzidas pela humanidade. Por isso, é tão importante conhecer a IA e considerar o como ela pode contribuir com pesquisadores e estudiosos para a concretização de uma sociedade do conhecimento e não apenas da técnica.

Foi nesse sentido que apresentamos argumentos contrários ao estudo mencionado no início deste texto e também convidamos os leitores da Folha de S. Paulo a fazerem uma reflexão sobre o uso da IA a partir de recente conversa com Isabella Faria. De nosso ponto de vista, a questão principal não é classificar a plataforma politicamente como de direita ou de esquerda, mas observar se ela reproduz informações confiáveis, reconhecidas por órgãos públicos, instituições sérias, se utiliza-se de evidências científicas, históricas, antropológicas, sociológicas e de análises aceitas amplamente para apresentar respostas aos temas pesquisados.

Por outro lado, é preciso que a sociedade conheça mais sobre como estão sendo desenvolvidas essas plataformas, que avalie o grau de transparência dos métodos utilizados e a ética na utilização e aplicação da IA. É preciso reconhecer o quanto falta ainda avançar em termos de tecnologias, de aprimoramentos e refinamentos.

Além disso, é preciso ter claro que a IA não resolverá qualquer problema sem o acesso e interlocução com conhecimentos produzidos nos diferentes campos científicos, a análise social, política, cultural e econômica, enfim sem os seres humanos. Há muitas imprecisões imperceptíveis para as máquinas, que só os olhos, os cérebros e a capacidade de reflexão humanos podem detectar de maneira abrangente, um tipo de conexão ainda inviável para as máquinas.

Independente da plataforma, é importante pensar que a IA pode nos fornecer muitas informações e também auxiliar na solução de problemas, e existem muitas possibilidades. Uma delas, por exemplo, está no campo da Saúde. Hoje em dia, são crescentes os estudos acadêmicos e a construção de amplos bancos de dados que podem ser utilizados como meta-repositórios para análises de diversas doenças. Além disso, é possível a criação de bases de dados específicas para estudos específicos.

Um estudo realizado na Unifesp junto com a Fiocruz é representativo disso. Dados de pacientes com Covid-19, internados em hospitais universitários ou de ensino, no período de 3 anos da pandemia, podem ser extraídos e analisados retrospectivamente. Com isso, é possível ter informações mais claras sobre o desenvolvimento de uma série de sintomas que ocorrem após o acometimento da Covid-19, o que foi denominado de Covid Longa. Esta pode ocorrer em pessoas que tiveram Covid-19, grave ou não, e que apresentam uma série de sintomas (fadiga, cansaço, falta de ar, perda de memória, problemas metabólicos, entre outros) e que persistem por vários meses após a doença.

Recentemente um dos estudos mais abrangentes nesse sentido foi publicado na prestigiosa revista Nature Medicine. Os autores caracterizam, a partir de uma base de dados retrospectivos com mais de 6 milhões de indivíduos, os principais e mais prevalentes sintomas que persistem após a Covid-19, dando consistência ao diagnóstico da Covid Longa. Estudos como o realizado por Al-Aly e seu grupo, podem também ser utilizados como importantes elementos na construção de previsões, modelos de atendimentos e tratamentos, além de dar subsídios para a formulação de políticas públicas em larga escala. Este ponto é particularmente importante em um país como o Brasil, que sofreu fortemente com a pandemia, sem uma política para combatê-la durante o período de Bolsonaro, tendo muitos milhões de casos confirmados e muitos outros que não foram registrados.

As possibilidades de a IA auxiliar as políticas para o Sistema de Saúde são imensas. Podemos fazer um excelente uso da IA, com evidências científicas, especialmente em situações como as que temos vivido desde o início da pandemia e que trazem novas questões de pesquisa. A possibilidade de usar dados para acumular conhecimento em curto espaço de tempo é muito promissora para o avanço na área da Saúde. No Brasil, com os dados do Sistema Único de Saúde e as diversas plataformas que já vêm sendo desenvolvidas sob a liderança do Prof. Manoel Barral da UFBA e Fiocruz, certamente haverá um enorme e acelerado avanço.

Por fim, como preza a boa ciência, a atenção e a dúvida de todos nós devem ser mantidas e redobradas em relação aos resultados obtidos a partir dessas plataformas. A Inteligência Artificial tem em sua base o conhecimento público e deve visar o interesse comum em sua aplicação, mantendo distância segura e uma relação crítica com o campo predatório e competitivo da sociedade de mercado que visa o lucro acima de tudo. A IA só fará sentido e cumprirá papel estratégico se estiver voltada ao bem-estar da humanidade, principalmente, para uma sociedade que coloca a Educação, o esclarecimento humano e a Justiça Social em primeiro lugar.

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