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Descrição de chapéu Dengue mudança climática

Combate à dengue é prioridade

Chuvas intensas, dengue e aumento da covid: coquetel de preocupações

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São Paulo
Ilustração mostra mosquito da dengue, chuva e graficos de pessoas
Meyrele Nascimento / Sou Ciência

Vivemos um começo de ano agitado. Um dos elementos de maior preocupação e que tem desdobramentos de grandes proporções é o das mudanças climáticas. Chuvas intensas, grandes extremos nas temperaturas, destruição do meio ambiente - acompanhados de destruição da infraestrutura, falta de atendimento à população mais vulnerável e muitas tragédias. Não são mais alguns alagamentos ou enchentes: são verdadeiros rios que se formam em apenas uma questão de minutos.

Além das perdas de vidas e de condições de vida e de trabalho, vemos os efeitos na saúde humana e animal. Estamos muito longe do conceito de Saúde Única, em que a saúde deve ser vista de maneira mais ampla, com harmonia entre a saúde animal e do meio ambiente para que, de fato, possa haver a saúde humana. Autoridades do clima (ou não), políticos, entidades e até cientistas já deveriam estar mais conscientes de que as mudanças climáticas alteram e desequilibram a tríade da saúde e, portanto, trazem doenças novas ou repaginadas. No jargão científico, emergentes e reemergentes.

Temos a covid-19 (não, ela não foi embora) e temos a dengue, neste momento juntas e acompanhadas de altas temperaturas e das catástrofes socioambientais quase irreversíveis. Em algumas regiões há um aumento simultâneo no número de casos de ambas as doenças, o que complica ainda mais o atendimento, principalmente, no sistema público. Embora tenham ciclos diferentes (ou seja, o vírus e seu ciclo de transmissão não são os mesmos na covid e na dengue), ambas são resultado do aquecimento e das fortes chuvas.

Um novo aumento no número de casos de covid, especialmente nestas últimas semanas epidemiológicas, vem acompanhado de um número considerável de óbitos, ainda o mais significativo proporcionalmente entre as doenças respiratórias graves. Certamente, os números oficiais de covid-19 estão subestimados, pois as pessoas deixaram de testar ou realizam autotestes que acabam sem notificação. A covid-19 não pode deixar de ser uma preocupação, especialmente, com as novas variantes e com a baixa imunização com as vacinas atualizadas. Aqui ainda temos os grupos negacionistas da ciência, que continuam trabalhando fortemente contra as vacinas, disseminando inverdades sobre seus efeitos e oferecendo curas sem comprovação científica.

O ressurgimento da dengue (sim, já tivemos isso antes) com o abrupto número de casos vem trazer novas preocupações e complexidades. Houve uma forte aceleração no número de casos, que passou de 0,7% para 13% em nove semanas na positividade dos testes para o vírus. Este fator, aliado ao despreparo das estruturas para o atendimento de tantos casos simultâneos, levou estados a decretarem emergência.

Diferentemente da covid-19, a transmissão do vírus da dengue depende do mosquito hospedeiro, o Aedes aegypti, que pode ser fortemente combatido e pode auxiliar na não proliferação de outros vírus que causam doenças como o vírus Zika e o vírus Chikungunya. Isso porque esses vírus fazem parte da família dos arbovírus.

No que diz respeito à imunização, felizmente a ciência já garantiu a existência de vacina investigada e aprovada pela Anvisa. Em breve teremos também a vacina totalmente brasileira, que já vem sendo desenvolvida há bastante tempo e que esperamos, em breve, que esteja pronta para ser aprovada e produzida em massa. No entanto, o fator limitante em relação a elas é que, atualmente, ainda não há vacinas suficientes para suprir a demanda global, o que limitou o número de pessoas que já podem tomá-la.

Por isso, a estratégia mais importante agora é a do combate ao mosquito. É preciso haver um grande esforço nacional, com estados e municípios, agentes públicos de saúde, além de instituições públicas e privadas para ampliar a informação à população no sentido de eliminar os focos do mosquito - pois já sabemos que 75% das transmissões ocorrem por focos que estão dentro dos domicílios. Atuar nas escolas, nas praças e lugares públicos também é importante. As medidas são simples: retirar a água parada; cobrir recipientes com água (como caixas d’agua); trocar semanalmente a água de recipientes que a armazenam (e que devem ser sempre cobertos) e não permitir acúmulo de lixo. É preciso apoio de todas as estruturas de Estado, especialmente, à população mais carente e vulnerável, além do apoio aos profissionais de saúde e da estrutura do SUS.

Certamente, as fortes chuvas e a incapacidade de termos uma boa infraestrutura de base para a ampla maioria da população contribuem para a proliferação do mosquito transmissor do vírus da dengue, o Aedes aegypti, o que também precisa ser sanado. Não podemos nos esquecer da origem de tudo isso, e voltamos ao início deste nosso texto: é preciso atuar estruturalmente para reduzir os efeitos das enormes mudanças climáticas - e está claro que um dos efeitos mais gritantes recai sobre a saúde humana, junto com a saúde do planeta. Sem atuar nas causas, mais epidemias virão, mais sofrimento, mais dispêndios. Por isso, acima de tudo, é necessário atuar para reverter a própria mudança climática, antes que não tenhamos mais solução.

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