Sylvia Colombo

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Descrição de chapéu feminicídio América Latina

Mulheres marcham por fim de violência contra a mulher na Bolívia e no Uruguai

A soltura de um assassino em série e ondas de estupro motivaram atos

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Buenos Aires

As ruas de La Paz e de Montevidéu viram nos últimos dias dois movimentos de mulheres que reuniram milhares de pessoas contra a violência de gênero.

A história boliviana é macabra. Descobriu-se que um ex-condenado por crimes contra mulheres, que havia sido sentenciado a 30 anos de prisão em 2015, saíra da cadeia favorecido por um esquema de corrupção entre juízes. O sujeito, conhecido como "el Richard", voltou a ser preso por ter matado pelo menos duas mulheres e estuprado mais de 70. Acabou confessando que as vítimas estavam enterradas em sua própria casa, na cidade de El Alto, ao lado de La Paz. Richard, 36, as conheceu por meio das redes sociais, oferecendo trabalho ou namoro, as mantinha prisioneiras um tempo, abusando delas sexualmente, e depois as matava ou as liberava.

Mulheres participam de protesto em La Paz contra assassino em série e agressões a mulheres
Mulheres participam de protesto em La Paz contra assassino em série e desatenção das autoridades - Mateo Romay (Xinhua)

A maioria das famílias de suas vítimas havia feito denúncias contra ele, mas a polícia é acusada pelos parentes e pelas ONGs de direitos das mulheres de agir de modo demasiado lento e desinteressado, provavelmente pelo fato de a maioria ser de origem humilde. Lucy, 17, e Íris, 15, estiveram dias como presas do violador até serem mortas e enterradas. As buscas na propriedade encontraram um terceiro cadáver, ainda não identificado, e ainda não estão concluídas. Ou seja, pode haver mais vítimas fatais.

Os habitantes de El Alto e as associações de defesa da mulher se alarmaram com a situação, que mostra uma dupla irregularidade. Uma, os crimes medonhos de Richard. A outra, o fato de ele e de centenas de outros acusados por crimes contra a mulher terem acesso rápido a uma liberação de suas penas apresentando documentos médicos falsos.

A marcha, realizada no último dia 31, reuniu mulheres e ativistas pedindo Justiça, e começou na casa onde as mulheres foram encontradas, em El Alto, para terminar na frente do Tribunal de Justiça, em La Paz. O governo do presidente Luis Arce afirmou que as centenas, ou mesmo os milhares, de casos de solturas irregulares de criminosos que cometeram violência contra as mulheres serão revistos. O juiz que liberou Richard, acusado de fazer parte de um esquema de juízes que soltam presos sob pagamento de propina, também foi preso.

Já no Uruguai, o ato ocorreu no último dia 29 de janeiro, com a bandeira "KArda" (que arda), contra a violência contra a mulher, em Montevidéu e em várias cidades do interior. As manifestantes se organizaram a partir de terríveis casos recentes de estupros grupais, em que as vítimas foram duas jovens de 19 e 26 anos, três meninas de 10 e 12 anos e duas mulheres, de 30 e de 75 anos. Uma semana antes, uma mulher de 30 havia sido estuprada por quatro homens.

O Uruguai se encontra às vésperas de um plebiscito que definirá a aplicação de um grupo de leis que, se aprovadas, aumentarão o orçamento para reforçar a segurança, um projeto do presidente Luis Lacalle Pou. Os grupos que defendem os direitos da mulher, porém, pedem mais ênfase em medidas de prevenção que de punição.

Vê-se que, mesmo num país governado pela esquerda, como a Bolívia, ou pela direita, como o Uruguai, a violência contra a mulher é um tema latente e que tampouco está limitado a determinados setores econômicos da sociedade.

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