Sylvia Colombo

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Pedro Castillo sobrevive a primeiro ano turbulento como presidente do Peru

Preocupado em continuar no cargo, mandatário não conseguiu cumprir promessas

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Buenos Aires

Para a surpresa de muitos, Pedro Castillo chega nesta quinta a seu primeiro ano como presidente do Peru, depois de sobreviver a duas tentativas de vacância por "incapacidade moral" (processo mais rápido de afastamento, diferente do impeachment), ter sido levado a trocar dezenas de ministros e permanecido em pé de guerra com o Congresso e até mesmo com o partido pelo qual se elegeu, o Perú Libre.

O presidente peruano Pedro Castillo, vestido com roupas típicas, fala em congresso em região de indígenas Aymara
O presidente peruano Pedro Castillo, fala em congresso em região de indígenas Aymara - Juan Carlos Cisneros - 8.abr.2022/AFP

Apesar de ter aguentado até aqui, sua situação política não é nada boa. Apenas 19% dos peruanos o aprovam. Sua popularidade só é mais alta que a do Congresso _que o quer derrubar a todo custo. Os parlamentares têm apenas 12% de aprovação, segundo o IEP (Instituto de Estudos Peruanos).

Castillo resultou ser o ganhador de um processo eleitoral muito particular, em que os peruanos deram seu voto de rejeição aos políticos tradicionais, depois de um mandato conturbado, com protestos, fechamento de Congresso e vacância presidencial.

O mandatário saiu do pé da tabela para vencer por apenas 40 mil votos de diferença a veterana Keiko Fujimori, filha do ex-autocrata do país. De tão desconhecido, meios de comunicação internacionais não tinham sua foto para colocar no placar da votação no dia da eleição.

Sua história pessoal comoveu camponeses que viveram em regiões assoladas pela violência entre Sendero Luminoso e as Forças Armadas nos anos 1970-80-90. Alguns de seus apoiadores mais próximos, de fato, tomaram armas nessa luta. Ele mesmo se diz um "rondero", membro das milícias camponesas que tentavam proteger a população do campo da violência. Professor rural e sindicalista, acabou sendo o indicado de seu partido, o Perú Libre, porque seu chefe, Vladimir Cerrón, está condenado por corrupção. A linha ideológica do Perú Libre é a de um marxismo antiquado, que parece parado nos anos 1970.

O mandatário chega ao final de seu primeiro ano com cinco investigações por corrupção. Castillo se defende: "Um ano e meus rivais, até agora, não conseguiram encontrar nenhuma prova. Estou aqui pela vontade do povo, chegou o momento de as regiões serem escutadas".

Diferentemente de dois de seus predecessores, Pedro Pablo Kuczynski e Martín Vizcarra, Castillo parece protegido dos processos de vacância pelo fato de o Congresso estar fragmentado e não ter conseguido, até aqui, juntar os 87 votos (dos 130 deputados) necessários para tirá-lo do jogo.

Castillo se mostrou até aqui um governante fraco, que sequer conseguiu cumprir parte de suas promessas, a de direcionar políticas de justiça social e mais educação aos rincões do país. Em sua defesa, porém, é necessário dizer que há uma pressão imensa da elite urbana de Lima, do empresariado e da política tradicional pela sua renúncia ou afastamento. O ex-presidente Francisco Sagasti, sem nenhum respeito pela democracia de seu país, anda sugerindo, por exemplo, que se chamem novas eleições.

Uma vez que foi eleito pelo povo peruano, seria interessante dar-lhe uma trégua e um voto de confiança, antes de simplesmente tirá-lo do poder sem as evidências e votos necessários. O Peru já desperdiçou um ano tentando fazer isso. Ou, que a Justiça, de modo independente, de fato reúna evidências sobre seus supostos atos de corrupção e ele responda por estes pelas vias institucionais. Tanto ruído e tanta instabilidade estão freando o desenvolvimento do país.

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