Tinto ou Branco

Tudo que você sempre quis saber sobre vinho, mas tinha medo de perguntar

Tinto ou Branco - Tânia Nogueira
Tânia Nogueira

Lambrusco, na Itália, hoje produz ótimos vinhos espumantes

Associação cria o Dia Internacional do Lambrusco para mostrar a revolução em suas vinícolas

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Paris

Ninguém sabe tudo sobre vinho. Nem os especialistas. Mesmo porque a informação de hoje pode não valer amanhã. No entanto, como o mundo é cheio de gente pretensiosa, alguns vinhos ótimos acabam tendo dificuldade para serem aceitos por supostos conhecedores. É o caso do lambrusco, um espumante italiano, da Emília Romana. Muitas vezes doce e apenas frisante (ou seja, com menos gás), ele é amado pelo público geral e odiado pelos que acham que entendem de vinho.

Sem querer ofender a metade da humanidade que ama esse vinho, os lambruscos que predominam no mercado brasileiro, e na maioria dos mercados do mundo, de fato, são de baixa qualidade. O que os conhecedores de vinho muitas vezes não sabem é que existem lambruscos muito bons. "A culpa é nossa", brinca Carlo Cavicchioli, 27 anos, quarta geração de uma das famílias de produtores mais conhecidas dessa denominação de origem controlada (DOC) da Emília Romana. "A gente quer tomar tudo o que é bom".

Taças de vinhos lambrusco na sala de degustação da Torre Eiffel
Lambruscos de várias tonalidades foram degustados durante o lançamento do dia internacional do lambrusco na Torre Eiffel - divulgação/@francescovignalli

Em 1987, seu pai, Sandro, foi o primeiro a apostar na uva sorbara (que também é nome de uma localidade e uma DOC), hoje a mais valorizada, e lançar um espumante feito a partir de uma única variedade, o que na época era proibido. O Vigna del Cristo era seco e se tornou um ícone da região. Mais recentemente, ganhou um filhote, o Rosé del Cristo, mais claro e produzido pelo método tradicional, o mesmo dos champanhes, ou seja, passa por duas fermentações, uma para formar álcool e outra para formar gás, sendo a última na garrafa. Ambos são da Cavicchioli e Figli, empresa que Sandro vendeu para o grupo Riunite, mas ainda administra e da qual ainda é o enólogo.

Existem lambruscos ótimos, mas, de fato, no passado, eles eram poucos e raramente chegavam a ser exportados. Isso está mudando. Há alguns anos, vem acontecendo uma revolução na região, que abrange 10 mil hectares de vinhedos. Os lambruscos modernos são secos e elegantes. Podem ser tintos, rosés de diferentes tonalidades ou até brancos (as uvas são todas tintas). Têm o frescor, a acidez marcante e os aromas frutados próprios do terroir local, mas são elaborados com todo o cuidado dedicado aos grandes vinhos.

Master of Wine dá masterclass no Dia Internacional do Lambrusco
Gabriele Gorelli, que apresentou os diferentes tipos de lambrusco, é o único master of wine italiano (título de maior prestígio no setor). - divulgação/Orlando Huang

Muitos são feitos pelo método tradicional, aquele explicado acima. Outros usam o método ancestral (uma única fermentação, que começa no tanque e termina na garrafa), podem ser vendidos com as borras das leveduras no fundo das garrafas (como o nosso sur lie) e até serem chamados de pet-náts (os espumantes queridinhos da galera naturebas). Boa parte, é verdade, continua sendo feita pelo método charmat ou martinotti (quando a segunda fermentação é feita num grande tanque pressurizado). Esse método não é tão badalado, mas funciona perfeitamente para espumantes do dia a dia.

Doze uvas locais podem entrar nos blends dos lambruscos. As mais usadas são a salamino, a grasparossa e a sorbara. Essas uvas podem aparecer sozinhas ou misturadas (blends). A de maior destaque no momento é a sorbara. Os tintos que saem dela são claros, quase rosés, secos e muito elegantes. Já a salamino e grasparossa são uvas bastante escuras. Os espumantes feitos delas, em boa parte das vezes, são tintos. Ainda assim, os modernos podem ser bastante elegantes e frescos. Tintos, rosés ou brancos, os novos lambruscos são uma delícia e super fáceis de tomar. Ótimos para dias quentes. E não são tão caros se comparados com outros espumantes italianos, como os das denominações franciacorta ou trento . Isso, contudo, até pouco não era comunicado ao mundo com muita veemência.

taça de vinho lambrusco em frente a um vinhedo
O vinho lambrusco muitas vezes é turvo por não ser filtrado. Em alguns casos, os produtores têm deixado os restos das leveduras na garrafa - arquivo pessoal/Tânia Nogueira

Agora, porém, os produtores de lambrusco resolveram dar um basta na sua pecha de patinho feio e decidiram gritar para o mundo: "Estamos aqui!!! Produzimos bons vinhos!". Fizeram isso em grande estilo. No dia 21 de junho, no aniversário de 50 anos da DOC, o Consorzio Tutela Lambrusco (associação de produtores) levou 35 jornalistas do mundo todo para Paris para o lançamento do Dia Mundial do Lambrusco. O evento aconteceu dentro da Torre Eiffel, com uma agenda que incluía uma masterclass do primeiro e único Master of Wine da Itália, Gabriele Gorelli, na qual foram provados 14 lambruscos de excelência, e um jantar no famoso restaurante Jules Vernes, com vista para o rio Sena e o pôr do sol. Detalhe, 21 de junho é solstício de verão e o sol se pôs depois das 22h30. Dia perfeito para beber espumante.

Por aqui, no Brasil, no entanto, essa revolução não chegou. Encontramos apenas algumas poucas garrafas desse novo lambrusco. A Decanter importa o premiado Medici Ermete Lambrusco Reggiano Concerto 2020 (R$ 200). A Mundo Bacco, o Vini del Re Grasparossa di Castelvetro (R$ 130). A Casa Flora e a Wines4you também traziam dois ótimos, mas desistiram por falta de público. Esperamos que voltem e, num futuro próximo, outras importadoras se animem a trazer novos rótulos.

A autora viajou a convite do Consorzio Tutela Lambrusco

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